Wana Schulze, Head de Investimentos e Portfólio da Wayra Brasil e Vivo Ventures. Créditos foto: Daniel Santos

Wana Schulze: a liquidez no jogo dos investimentos em startups

O novo ciclo dos exits: quando a liquidez volta a ditar o jogo dos investimentos em startups

Durante anos, o ecossistema de inovação viveu sob a lógica de crescimento a qualquer custo. Rodadas sucessivas, valuations crescentes e métricas de vaidade pareciam ser o combustível inesgotável das startups. Mas o tempo da liquidez fácil passou e com ele, a régua de sucesso se reposicionou. Em 2025, o olhar dos investidores volta-se menos para a rodada seguinte e mais para a possibilidade real de saída.

No mercado de venture capital, o “exit” – a saída de um investimento via M&A, IPO ou secundário – deixou de ser um tema de fim de jornada para se tornar parte central da tese desde o início. A lógica mudou: não basta crescer rápido, é preciso construir um negócio que alguém queira comprar, integrar ou listar.

Um novo cenário global (e latino)

De acordo com a KPMG Global Venture Pulse Q3 2025, o valor global das saídas de VC subiu para US$ 149,9 bilhões, impulsionado por um tímido retorno dos IPOs nos Estados Unidos e na Ásia. Ainda assim, estamos longe do pico de 2021, quando o volume global ultrapassava US$ 600 bilhões.

Na América Latina, o movimento é ainda mais comedido. Segundo o Latin America Venture Capital Report 2025, houve apenas 79 exits em 2024, somando cerca de US$ 1,9 bilhão – a menor marca recente. O que isso sinaliza? Que o capital voltou a ser seletivo, e a liquidez passou a ser a nova métrica de confiança.

Investidores institucionais, CVCs e fundos de pensão estão ajustando suas teses. O que se busca agora são empresas capazes de gerar caixa, sustentar margens e, sobretudo, destravar liquidez em horizontes previsíveis. O tempo de segurar startups indefinidamente no portfólio acabou.

Com menos saídas, há um efeito cascata: os fundos de estágios avançados (growth e late stage) reduzem o ritmo de investimento, o que pressiona os fundos early stage, e assim por diante. O pipeline de liquidez se alonga, o capital recicla mais lentamente e os múltiplos encolhem.

Esse movimento força uma redefinição da relação risco-retorno. Startups que antes buscavam valuations agressivos estão revendo estratégias. Hoje, um M&A estratégico a múltiplos sustentáveis vale mais do que uma Série C inflada sem perspectiva de saída.

Enquanto o mercado global começa a ensaiar o retorno dos IPOs, no Brasil a liquidez vem principalmente das operações de M&A. Grupos estratégicos seguem ativos em setores como saúde, fintech e energia, adquirindo startups que oferecem tecnologia validada, eficiência e sinergia operacional. À medida que o país se aproxima das eleições de 2026, o apetite por risco tende a oscilar, e investidores institucionais e estratégicos adotam uma postura mais seletiva, priorizando negócios com geração de caixa e governança sólida. As empresas estão focadas em aquisições que tragam tecnologia, canais e eficiência operacional, em vez de promessas de crescimento futuro.

A nova régua de investimento: previsibilidade e liquidez

O investidor em 2025 está olhando para três dimensões de saída antes mesmo de aportar:

Liquidez potencial – quem são os players estratégicos ou financeiros que podem comprar a startup no futuro?

Estrutura de governança – o cap table e os direitos de preferência permitem uma saída ordenada?

Eficiência de capital – o crescimento está sendo financiado de forma sustentável ou depende de rodadas sucessivas?

A startup que demonstra ter clareza sobre esses pontos conquista vantagem. O empreendedor que sabe explicar como e para quem sua empresa pode sair inspira mais confiança do que aquele que promete “ser o próximo unicórnio”.

O mercado global de venture capital ainda está longe da exuberância de 2021, mas avança para um ciclo mais racional. A nova régua de sucesso não é o valuation de entrada, e sim a capacidade de gerar liquidez com propósito e consistência.

Na América Latina, onde o ecossistema amadurece rapidamente, a próxima onda de valor virá das startups que entendem desde cedo como construir um negócio adquirível. Isso significa:

Governança desde o dia 1,

Modelos de receita sustentáveis,
Cultura de eficiência e transparência, e
Relações estratégicas com potenciais compradores.
O ciclo de exits está apenas recomeçando e quem compreender essa dinâmica agora estará mais preparado para surfar a próxima onda do venture capital.

*Wana Schulze é graduada em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui MBA em Finanças pela Universidade de Chicago Booth. Profissional com experiência no mercado financeiro e consultoria estratégica, com passagens pelo Itaú BBA, Societé Générale, PIMCO e McKinsey. Atualmente, é Head de Investimentos e Portfólio da Wayra e Vivo Ventures, liderando a equipe com um foco central em originação, construção de teses de investimento e desenvolvimento de processos.

Sobre a Wayra & Vivo Ventures

A Wayra, fundo early stage de Corporate Venture Capital da Vivo no Brasil e da Telefónica no mundo, investe, escala e conecta startups com corporações e outros parceiros. O objetivo é gerar oportunidades de negócios e inovação em conjunto. Criada em 2011, a Wayra opera em nove países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Alemanha, México, Peru, Espanha e Reino Unido) e já investiu mais de 66 milhões de euros em mais de 550 startups. Presente no Brasil desde 2012, a Wayra já aportou cheques – que podem chegar até R$ 2 milhões – em 89 startups e, atualmente, conta com 28 delas ativas.

Por sua vez, o Vivo Ventures, lançado em 2022, é um CVC com R$ 320 milhões para investir em startups “growth” (da série A em diante), com o objetivo de alavancar a estratégia de novos negócios da Vivo e a entrada em novos mercados. O Vivo Ventures já investiu R$ 160 milhões em oito startups: Klavi, Klubi, Digibee, Conexa. CRM Bônus, Agrolend, Lend e Facio.

Ambos os veículos de investimento, Wayra Brasil e Vivo Ventures, têm atuações integradas, para aproveitar ao máximo as oportunidades em prol da Vivo e do grupo Telefónica, reforçando a empresa como hub digital. A gestão dos dois fundos é feita pela Wayra Brasil, e as áreas prioritárias são Entretenimento, Casa Conectada, Marketplace, Educação, Energia, Saúde e Serviços Financeiros.

Rede Brasil Inovador

Aldo Cargnelutti é editor na Rede Brasil Inovador. Estamos promovendo os ecossistemas de inovação, impulsionando negócios e acelerando o crescimento econômico. Participe!

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+55 11 94040-5356

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