Com abundância em água e energia limpa, o País atrai investimentos na área. Setor pode ser solução para o “curtailment”. Foto: divulgação
O Brasil entrou no radar do atraente mercado de data centers. Hoje, é o 10º país com maior número de unidades em operação. São 163, e a maioria no Estado de São Paulo, mas há mercados emergentes como Goiás, Rio Grande do Sul e Ceará. Se antes eles eram apenas salas de servidores, hoje, impulsionados pela inteligência artificial, tornaram-se infraestruturas gigantescas e críticas. O Brasil está sentado em uma mina de ouro, mas precisa saber cavar.
É esse cenário que o último episódio de 2025 da Série Energia se dedica a analisar. A expectativa para o setor é de crescimento exponencial. “Mas esse crescimento traz dois insumos vitais para a mesa de discussão: energia e água”, explica o professor Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP em Pirassununga (SP).
Apresentador e coprodutor da série, Caneppele diz que o Brasil vive um cenário curioso de abundância desperdiçada. “Em muitos momentos, temos um excesso de geração renovável – solar e eólica – que a rede não consegue absorver, o que nos obriga a cortar essa geração – o chamado curtailment. É aqui que os data centers entram como uma luva. Eles são consumidores eletrointensivos e, crucialmente, constantes. Eles precisam de energia 24 horas por dia, sete dias por semana”, analisa.
A instalação estratégica de data centers próximos a grandes centros de geração ou em pontos ociosos da rede pode transformar esse problema de excesso em solução. “Eles funcionam como uma âncora de consumo, estabilizando a demanda e monetizando uma energia que, de outra forma, seria desperdiçada. O Brasil, com sua matriz limpa, torna-se o local perfeito para as big techs que precisam cumprir metas globais de descarbonização. Nós vendemos não apenas o processamento de dados, mas o processamento verde”, assegura.
Mas há o outro lado da moeda: o resfriamento. Servidores processando IA geram um calor imenso. Tradicionalmente, a solução é usar água – muita água – em torres de resfriamento evaporativo. “Em um País que, apesar de rico em recursos hídricos, enfrenta crises de escassez localizada e conflitos pelo uso da água, isso é um risco operacional e reputacional gigantesco”, alerta.
Aí entra a inovação tecnológica já discutida aqui na série. O setor caminha para alternativas ao uso intensivo de água potável. “Estamos vendo a ascensão de tecnologias como o free cooling – usar o ar externo para resfriar, possível em regiões mais amenas, o uso de água de reuso industrial e, na fronteira da tecnologia, o liquid cooling e a imersão. Nesses sistemas, os servidores são submersos em fluidos dielétricos que conduzem calor muito melhor que o ar, em circuitos fechados que praticamente não consomem água”, explica.
Portanto, a expectativa é clara, segundo o professor: o Brasil será um hub global de data centers. “Mas o sucesso não depende apenas de construir prédios. Depende de integrarmos essa infraestrutura com nossas sobras de energia renovável e adotarmos tecnologias de resfriamento que respeitem nossos recursos hídricos”, afirma. É a engenharia a serviço da sustentabilidade digital.
A Série Energia tem coprodução do jornalista Ferraz Junior, da Rádio USP de Ribeirão Preto. Você pode sintonizar a emissora em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS. Com o recesso de final de ano, novos episódios da Série Energia retornam a partir de 23 de janeiro de 2026.