Filósofo francês encerrou o ciclo de palestras do Tecnopuc Experience com a provocação de que a máquina faz ressoar coisas do nosso subconsciente
“Como uma máquina pode ser inteligente?” O questionamento acerca da Inteligência Artificial (AI) levantado por Pierre Lévy veio acompanhado de sua própria tese: graças à inteligência humana. Com essa provocação, o filósofo francês iniciou a palestra de encerramento do Tecnopuc Experience, no palco Arena South Summit, na tarde desta quinta-feira (30).
Referência internacional nos estudos sobre cibercultura, Levy apresentou o painel intitulado “A inteligência humana – Segredo da inteligência artificial”, no qual trouxe reflexões sobre o modo como as tecnologias digitais, a inteligência coletiva e a própria cultura de games estão moldando o futuro da sociedade, da criação e da inovação. Segundo o pesquisador, atualmente há cerca de 700 milhões de usuários do ChatGPT no mundo todo.
“Existem pesquisas sobre inteligência artificial desde o século XX, mas elas ficavam reservadas aos laboratórios. Foi apenas em 2022 que esse fenômeno de máquinas que falam com as pessoas veio a público”, comentou.
O francês reiterou o crescimento exponencial do número de pessoas conectadas à Internet no mundo todo nas últimas décadas. Ele pontuou que, nos últimos três meses, as big techs Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, NVDIA e Tesla gastaram mais de US$ 100 bilhões na construção de data centers. Segundo ele, usinas nucleares alimentarão estas estruturas no futuro.
“Hoje, 68% da população mundial está conectada à internet. Quando eu comecei a refletir sobre isso e escrevi A Inteligência Coletiva, tinha menos de 1% da população conectada. Naquela época se falava que a população da África não tinha acesso à internet. Mas, hoje, ela tem”, diz.
O pesquisador pontua que os dados de treinamento, usados para aprimorar as máquinas, só funcionam porque foram categorizados pelos humanos. Além disso, ele acrescenta que essas informações são armazenadas em centros construídos por pessoas, o que reafirma a sua tese inicial.
“Há toda uma estrutura humana por trás do funcionamento da Inteligência Artificial. Nós é que produzimos os dados de treinamento. A máquina não tem significado. Somos nós que projetamos sobre a máquina uma subjetividade que, na verdade, não está lá. A máquina faz ressoar coisas do nosso subconsciente. A máquina fala e parece inteligente, mas nós é que somos inteligentes”, finaliza Lévy, que encerrou o painel ovacionado pela plateia.
Nascido em 2 de julho de 1956, na Tunísia, Pierre Lévy estudou na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde fez mestrado em História da Ciência e doutorado em Sociologia.
Em 1987, começou a lecionar no Departamento de Comunicação da Universidade do Quebec, em Montreal. No mesmo ano lança seu primeiro livro, “A Máquina Universo: criação, cognição e cultura informática”. Suas ideias se tornaram conhecidas mundialmente em meados da década de 1990, com a tese “As Árvores do Conhecimento”. Foi o precursor de concepções como inteligência coletiva, ciberespaço, cibercultura e internet como um instrumento de desenvolvimento social.
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