A 26ª reunião do Conselho de Desenvolvimento da Indústria de Defesa (Condefesa) aconteceu na sede da CNI, nesta quinta-feira (27/11). Foto: Gabriel Pinheiro/CNI
Levantamento da CNI aponta que se o país produzisse 30% do que é importado em artigos de defesa, impactaria diretamente em inovação e geração de empregos.
Anna Reis
anna.reis@cni.com.br
Um novo simulador de impacto elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que se o Brasil produzisse cerca de um terço dos produtos de defesa e segurança que hoje importa, o país poderia criar 226 mil empregos diretos e indiretos e arrecadar R$ 9,9 bilhões em tributos indiretos e contribuições sociais. O estudo mostra ainda que o impacto total no valor da produção seria de R$ 60,9 bilhões.
Os dados foram apresentados nesta quinta (27), durante a 26ª reunião do Conselho de Desenvolvimento da Indústria de Defesa (Condefesa), que aconteceu na sede da CNI, em Brasília, e reuniu empresários, especialistas e representantes das forças armadas brasileira.
O simulador mede os efeitos socioeconômicos de substituir importações por produção interna, considerando os impactos em emprego, renda e arrecadação fiscal. Atualmente, o Brasil importa, em média, R$ 70,8 bilhões por ano em produtos de defesa e segurança, com itens que vão desde coletes balísticos e trajes antibombas até mísseis e peças e componentes para aeronaves militares.
O presidente do Conselho de Desenvolvimento da Indústria de Defesa e da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mário Aguiar, explica que o Brasil já conta com base industrial de defesa capaz de produzir armamentos, radares, mísseis e aeronaves militares, mas ainda depende fortemente da importação de insumos críticos e produtos acabados.
“Compras públicas de defesa são um instrumento estratégico para estimular a produção nacional, adensar cadeias industriais e impulsionar pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) com efeitos multiplicadores em toda a economia”, reforça.
Investimento em defesa e segurança: mais soberania e tecnologia
Atualmente, mais de 90% das importações no setor são de uso dual, com aplicação tanto militar quanto civil. Essa característica amplia o potencial de desenvolvimento tecnológico e produtivo, com transbordamentos para setores como telecomunicações, aeroespacial, automotivo, cibernético e energético. A nacionalização, mesmo parcial, pode reduzir a vulnerabilidade externa em setores sensíveis, estimular a inovação e fortalecer a soberania tecnológica do país.
Danilo Severian, especialista em políticas e indústria da CNI, explica que o fortalecimento da base industrial de defesa tem efeitos estruturantes sobre cadeias produtivas de alta complexidade e atua como vetor de inovação transversal. “É um setor capaz de elevar o patamar tecnológico do país e criar oportunidades tanto para grandes empresas quanto para startups e centros de pesquisa”, explica.
Oportunidade para atrair mão de obra qualificada
Caso o Brasil produza 30% do que hoje importa em produtos de defesa, os empregos criados para atender a essa nova demanda seriam, em grande parte, de alta qualificação técnica. Isso porque o setor envolve atividades intensivas em tecnologia, engenharia e inovação.
A simulação do Observatório Nacional da Indústria projeta a geração de 123 mil vagas formais caso o Brasil fizesse essa produção, das quais 6.900 seriam ocupações inovativas, 2.426 em áreas técnico-científicas ligadas à pesquisa e desenvolvimento (P&D), 5.393 para técnicos e tecnólogos e 1.241 para engenheiros.
Severian explica que esse perfil reforça o potencial do setor de defesa como um polo de atração e retenção de profissionais altamente qualificados, com impacto positivo na formação de competências estratégicas e na disseminação de conhecimento técnico e científico em toda a economia.
“Além de gerar emprego e renda, o fortalecimento da base industrial de defesa cria oportunidades de carreira em áreas de ponta e pode contribuir para reduzir a evasão de talentos brasileiros para o exterior”.