Para crescerem de forma sustentável em um cenário dinâmico, as empresas precisam mudar a mentalidade e compreender que o ponto de partida não é a tecnologia, mas, sim, o cliente. O alerta é do professor Joerg Niessing, especialista em marketing e transformação digital do INSEAD (Instituto Europeu de Administração de Empresas).
Segundo ele, mesmo diante da avalanche de tendências digitais, de novos concorrentes e de tecnologias exponenciais que desafiam os executivos, os princípios estratégicos permanecem os mesmos: colocar o cliente no centro e gerar valor real. “A maioria das empresas começa a transformação digital pela tecnologia e empurra isso para o cliente. Mas isso não é inovação, é digitalização”, alertou.
Niessing ressaltou que muitas empresas fracassam por não se adaptarem ou por deixarem de compreender o que seus clientes realmente desejam. Como exemplo, citou a empresa suíça Kuoni, que sucumbiu por não inovar, apesar de ter sido líder no setor de turismo. Para ele, a chave está em entender a diferença entre necessidade e desejo. “Quando falamos de precisar, estamos no presente. Quando falamos de querer, estamos falando do futuro. O verdadeiro desafio das empresas é criar valor para aquilo que o cliente realmente deseja.”
As reflexões do professor foram apresentadas nesse domingo (31), no primeiro dia da programação acadêmica da Missão Internacional do Transporte – França 2025, promovida pelo Sistema Transporte, realizada no campus do INSEAD, em Fontainebleau, na França.
Estratégias de transformação
Na oportunidade, Niessing apresentou um modelo de transformação baseado em três movimentos estratégicos:
Vender melhor: usar dados para aumentar a eficácia das vendas sem mudar o modelo de negócio.
Vender de forma diferente: reinventar a experiência do cliente por meio da inovação digital.
Vender o novo: desenvolver propostas baseadas em serviços e modelos de negócio transformadores.
De acordo com ele, cada companhia deve decidir o quanto investirá em manter sua eficiência atual e o quanto destinará para uma espécie de gabinete de transformação, voltado ao futuro. “Todo e qualquer modelo de negócio vai morrer. A questão não é se, mas, sim, quando. Por isso, o papel da liderança é criar uma força-tarefa para pensar no futuro da empresa”, afirmou.
Ao falar sobre crescimento de longo prazo e dinâmicas transculturais, Niessing reforçou que o sucesso depende de equilibrar tecnologia com relacionamento humano. O conceito de Tech & Touch, que é usar dados e ferramentas digitais para enriquecer, e não para substituir as interações humanas, foi destacado como central. Casos como o da Vorwerk (Thermomix TM5) e da fusão Air Liquide-Airgas mostram como dados e ferramentas digitais, aliados à proximidade com o cliente, podem gerar lealdade e vantagem competitiva.
“O digital deve enriquecer a jornada do cliente, e não invadir sua vida. É no equilíbrio entre tecnologia e relacionamento humano que nasce a verdadeira transformação”, concluiu.
Abertura oficial da Missão
A Missão Internacional do Transporte – França 2025 teve sua abertura oficial na noite de domingo (31), em Fontainebleau, com um jantar que reuniu cerca de 70 participantes, entre empresários, parlamentares, professores do INSEAD e representantes do Sistema Transporte.
O presidente do Sistema Transporte, Vander Costa, ressaltou o caráter inédito da Missão, que, pela primeira vez, reúne representantes de todos os modais. Para ele, o propósito das ações internacionais é claro: “abrir caminhos para a inovação e a competitividade, aproximando o Brasil das melhores práticas globais e fortalecendo a visão de futuro do setor”.
Pedro Brancante, chefe do Setor de Promoção Comercial da Embaixada do Brasil na França, destacou a relevância da iniciativa também no âmbito diplomático. “Esta Missão aqui vem realmente em um momento muito oportuno das relações bilaterais. É lógico que o foco principal aqui é estender os horizontes e mergulhar nos assuntos com o INSEAD, mas quero também ficar totalmente à disposição para continuar o diálogo e para estabelecer eventuais parcerias.”
O ambiente foi marcado por expectativas em relação à imersão acadêmica. Para Marcos Vilela, CEO da Bravo Logística e um dos participantes, o encontro representa uma oportunidade de renovar ideias em um setor em rápida transformação. “Nós estamos na maior escola de negócios do mundo. Eu acho que nosso segmento precisa muito de oxigenação e de ouvir e mudar nossas ideias iniciais. É isso que o SEST SENAT está nos propondo. É fantástico!”
Também participaram do jantar, pelo Sistema Transporte, o ex-presidente e fundador do SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), Clésio Andrade; a diretora executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart; a diretora executiva da CNT, Fernanda Rezende; e a diretora adjunta do ITL (Instituto de Transporte e Logística), Eliana Costa. O evento contou ainda com a presença dos professores do INSEAD Joerg Niessing, Ziv Carmon e Felipe Monteiro; do diretor substituto da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Roberto Honorato; e dos deputados federais Neto Carletto (AVANTE-BA) e Hugo Leal (PSD-RJ).
Missão Internacional do Transporte – França 2025
A Missão Internacional do Transporte – França 2025 acontece de 28 de agosto a 7 de setembro, em Fontainebleau, em parceria com o Insead, uma das escolas de negócios mais renomadas do mundo. A delegação, formada por 47 participantes – entre empresários, parlamentares e representantes do Sistema Transporte –, tem a oportunidade de viver uma imersão estratégica que combina formação executiva, visitas técnicas, intercâmbio cultural e networking internacional.
Promovida pelo Sistema Transporte, a iniciativa tem como propósito ampliar a visão de futuro do setor, desenvolver competências de liderança e estimular práticas de gestão mais inovadoras e eficientes, conectando os participantes a tendências globais que moldam o transporte e a mobilidade.