Por: Lilian Coelho Maffei / Perfil Brasil
Uma inovação com sotaque brasileiro está pronta para transformar a cirurgia oncológica globalmente. A química Lívia Schiavinato Eberlin, formada pela Unicamp e atualmente professora da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, é a mente por trás da MasSpec Pen, um dispositivo apelidado de “caneta que detecta câncer”.
A principal função da MasSpec Pen é resolver um dos grandes desafios das cirurgias de câncer: identificar com precisão a margem entre o tecido cancerígeno e o tecido saudável. Atualmente, esse processo envolve enviar amostras ao laboratório para um exame que pode levar de 20 minutos a mais de uma hora, mantendo o paciente sob anestesia.
Com a caneta, essa espera é reduzida para apenas 10 segundos, permitindo que o cirurgião tome decisões imediatas e garanta a remoção completa do tumor, minimizando a necessidade de uma segunda cirurgia.
“É como fazer um café: a água extrai as moléculas da amostra sólida, mas não remove o tecido. A análise é instantânea e não causa nenhum dano”, explica Lívia Eberlin.
A tecnologia da MasSpec Pen é baseada na espectrometria de massas, uma técnica que analisa a composição molecular das substâncias, semelhante ao que é usado em exames antidoping e perícias forenses. O processo é simples e não invasivo ao tecido:
O cirurgião encosta a ponta da caneta no tecido suspeito.
O dispositivo libera uma microgota de água estéril, que absorve as moléculas da superfície.
Essa microgota é aspirada e enviada para um espectrômetro de massas acoplado.
O equipamento lê a “assinatura química” das moléculas, e um software de inteligência artificial compara o padrão com bancos de dados de tumores, informando instantaneamente se o tecido é normal ou cancerígeno.
Atualmente, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, conduz o primeiro estudo clínico da MasSpec Pen fora dos Estados Unidos, em parceria com a multinacional Thermo Fisher Scientific. Os testes iniciais envolvem pacientes com câncer de pulmão e tireoide e já demonstraram uma precisão superior a 92%, segundo dados publicados na revista JAMA Surgery, como aponta o G1.
A cientista Lívia Eberlin expressou o desejo de que essa tecnologia, que representa o potencial da ciência brasileira, seja aprovada pela Anvisa e FDA e utilizada em larga escala, expandindo os testes para tumores de mama, fígado e ovário. Por fim, a rapidez da caneta não apenas salva tempo na cirurgia, mas também auxilia no planejamento de terapias pós-operatórias, como a imunoterapia, tornando o tratamento mais personalizado e eficaz.