Tecnologia, futurismo e inteligência artificial foram alguns dos temas que marcaram o 3º Fórum de Inovação da Health Meeting Brasil/SINDIHOSPA, realizado nesta quarta-feira (22). O evento foi um dos destaques da feira, que vai até quinta-feira (23), na PUCRS. A atividade lotou o auditório do prédio 11 da PUCRS para conferir os debates com especialistas nacionais.
A governança de dados na saúde, inserida em um contexto de mudanças constantes provocadas pelo advento da inteligência artificial, abriu as discussões. Paulo Marcelo Zimmer, diretor de Operações Médicas do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, falou sobre os desafios em relação ao tema. Segundo ele, apesar dos avanços tecnológicos, boa parte dos hospitais no Brasil ainda é analógico, sequer tendo adotado o prontuário eletrônico. “É impossível imaginar que seremos sustentáveis no futuro se não entendermos a importância dos dados”, afirmou.
Já Carolina Sanvicente, sócia-fundadora do Perroni Sanvicente & Schirmer Advogados, falou sobre como o avanço da IA mudou a visão sobre governança, que agora precisa de diferentes perfis de pessoas para funcionar. O presidente da Assepro-RS, Alexandre Mello, destacou que a capacidade das pessoas em lidar com a inteligência artificial é o diferencial do presente e do futuro: “o grande desafio é explicar as decisões, sejam elas tomadas com ou sem o uso dessas ferramentas. Esse é o papel fundamental e intransigível do ser humano”.
O futurismo na saúde
Bruno Pina, CEO da Synapse Consulting, consultoria internacional em inovação e estratégia em saúde, falou sobre como o processo de digitalização foi abraçado pela sociedade em diferentes setores nos últimos anos. Após a pandemia, por exemplo, segundo ele, o aumento de cuidados virtuais cresceu sete vezes. “Mudamos nosso momento mental em pouco tempo, com pouco investimento e muito caos. Imaginem o que podemos fazer com muito investimento e pouco caos”, provocou.
Pedro Batista, fundador da Horuss AI, trouxe alguns exemplos do que está sendo feito na China, que produz boa parte dos insumos de medicamentos e dos equipamentos hospitalares utilizados na medicina brasileira. Ele comentou como, nas últimas décadas, o gigante asiático se tornou um grande produtor de marcas e que, em função das taxas impostas pelos Estados Unidos, é possível que o Brasil se torne o segundo maior parceiro comercial chinês, abrindo muitas oportunidades.
Inovação em foco
A inovação sob o ponto de vista dos executivos das instituições também foi debatida na programação. William Dalprá, diretor assistencial de Saúde da Rede Divina Providência, salientou que o cuidado deve ser sempre vinculado ao lado humano. Segundo ele, a inteligência artificial deve acrescentar a este entendimento.
Leandro Firme, CEO da Unimed Porto Alegre, comentou como a instituição tem tecnologia em abundância, mas sempre colocando o paciente como centro de tudo. “A inovação aplicada de uma forma correta nos remete mais à precisão, prevenção, promoção à saúde do que ao tratamento das doenças em si.” O diretor de Investimentos e co-fundador da Ventiur Smart Capital, Carlos Klein, falou sobre a importância de melhorar a acreditação dos hospitais e, ao mesmo tempo, pensar e revisar o que vem sendo feito. Segundo ele, criar esta cultura interna é o grande desafio dos gestores.
Geração de negócios
Ana Etges, fundadora da Pev Health Care Consulting, lembrou que a diversificação de novas frentes de negócios sem desfecho clínico comprovado e sem viabilidade econômica não se sustenta. Já Carolina Araripe, gerente de Inovação e Venture Building do Einstein Hospital Israelita, de São Paulo, destacou que a construção de novos modelos exige visão sistêmica e alinhamento interno.
Ao trazer exemplos práticos, Melina Schuch, superintendente de Estratégia e Relações com o Mercado do Hospital Moinhos de Vento, relatou como iniciativas de receita podem nascer fora do eixo estritamente assistencial, desde que haja consistência de modelo. Já Carolline Andresi, líder em Inovação Estratégica na Unimed São Paulo, reforçou que novos negócios também têm natureza formativa: programas internos de aceleração geram novos agentes capazes de resolver problemas reais, criando valor mesmo antes do retorno financeiro.
Prontuários eletrônicos do futuro
O papel dos softwares de prontuário eletrônico no futuro da saúde também foi amplamente debatido no evento. O vice-presidente da MV Sistemas, Alceu Alves da Silva, falou que as tecnologias devem beneficiar a sociedade. O prontuário do futuro, segundo ele, será o de uso por voz. “Isso vai fazer com que os médicos tenham mais tempo de exercer a essência da sua atividade, que é estar com os pacientes”, afirmou.
O gestor de Negócios e Ofertas da TOTVS, Arnaldo Manfredini, disse que o caminho do prontuário do futuro passa por ter uma boa base. Já o assessor estratégico de TI do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Valter Ferreira, comentou que o futuro chegou e a grande missão é fazer com que as soluções tecnológicas se tornem mais acessíveis.
Turismo e saúde lado a lado
Janaína Brentano, líder do Programa RS Saúde & Turismo e proprietária da Vou Viajar, abordou o potencial do turismo de saúde. O Rio Grande do Sul, segundo ela, tem buscado atrair mais pessoas e coletar dados para verificar quantas pessoas estão buscando o Estado para fins de saúde. Daniel Giaccheri, vice-presidente do SINDIHOSPA, comentou que 12% do turismo de São Paulo é destinado a essa área. “Imaginem um sistema em que a gente consiga conectar os hospitais com agências de turismo. Precisamos buscar benchmarks e conectá-los à nossa realidade”, afirmou.
Evandro Moraes e Sidiclei Carvalho, respectivamente, superintendente administrativo e gerente de Enfermagem do Hospital Moinhos de Vento, falaram sobre algumas iniciativas que tornaram a instituição mais eficiente. “Desoneramos a enfermagem entregando para o paciente, por exemplo, a possibilidade de pedir mais um travesseiro ou melhorar o ar condicionado em alguns comandos”, comentou Moraes.
Os desafios da interoperabilidade
Em um bate-papo, diferentes especialistas conversaram sobre a interoperabilidade. Guilherme Barros, sócio e diretor da Sisqualis Health; Diana Jardim, gerente de Inovação da Unimed Porto Alegre; Cícero Baldin, chefe do serviço de Enfermagem do Hospital Mãe de Deus; Luís Fernando Goulart, gerente corporativo do Centro de Inovação e Tecnologia da Informação do Hospital Ernesto Dornelles; e Luiz Carlos Pinto, secretário de Inovação de Porto Alegre, falaram sobre como a capacidade de setores e atores diferentes de se comunicarem e trocarem informações passa por uma mudança cultural, mas que, cada vez mais, se torna uma realidade.
Na última apresentação do dia, o diretor médico da Care Intelligence, Lucas Silva, tentou desmistificar um pouco do entusiasmo exacerbado que existe na sociedade quando se fala em inteligência artificial. Ele trouxe uma série de iniciativas que têm mostrado resultados, que, por sua vez, dependem de diversos fatores que envolvem pessoas. “O valor da IA não está na tecnologia, mas na implementação e redesenho de fluxos de trabalho”, afirmou.
A 3ª Health Meeting Brasil / SINDIHOSPA é realizada pela HM Brasil Feiras e Congressos e pelo SINDIHOSPA, com patrocínio da Unimed Porto Alegre, Unicred Porto Alegre, Secretaria Estadual do Turismo e Sebrae.