Alex de Souza
A Fiesp realizou, na última quinta-feira (18/9), o seminário “Conexão Nórdico-Brasileira: Estratégias de Economia Circular para a Descarbonização”, evento paralelo oficial ao Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF2025), realizado em maio, em São Paulo.
Organizado pela Fiesp em parceria com os consulados dos países nórdicos (Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega), o encontro reuniu especialistas, representantes de governos e lideranças empresariais do Brasil e desses países europeus para debater como a circularidade pode acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.
Não há outro caminho – Para Dan Ioschpe, 2º vice-presidente da Fiesp e COP30 High-Level Champion, não há contradição entre crescimento econômico e sustentabilidade. “Está na hora de abandonar essa dicotomia. Só temos um caminho: o desenvolvimento socioeconômico sustentável”, afirmou.
Em seu entendimento, a maior oportunidade de negócios da atualidade está ligada à sustentabilidade, sendo o Acordo de Paris uma importante bússola. “Não existe nenhum caminho estratégico que não seja o da sustentabilidade, e a economia circular é a ferramenta mais acessível para praticamente todos os setores”, pontuou.
Competitividade e inovação – A transição para a economia circular já é realidade nas indústrias e precisa ganhar escala, de acordo com o diretor titular adjunto do Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS) da Fiesp, Mario Hirose. “A economia circular não apenas promove sustentabilidade ambiental, mas também amplia a competitividade das empresas, impulsiona a inovação e fortalece os setores produtivos”.
Hirose lembrou que o Brasil já possui um plano nacional de economia circular, lançado em maio, mas defendeu ousadia para acelerar a adoção de tecnologias disruptivas e ampliar parcerias internacionais. “Precisamos redesenhar modelos de negócio e estimular investimentos em pesquisa e novas soluções”.
A diretora de Gestão Corporativa e Sustentabilidade da Cetesb, Liv Nakashima Costa, reforçou que a circularidade é ferramenta prática para a descarbonização, especialmente no setor industrial. “Essas discussões internacionais permitem encontrar soluções viáveis por meio de parcerias”, explicou.
Os desafios urbanos foram apontados pelo secretário executivo de Mudanças do Clima da prefeitura de São Paulo, José Renato Nalini, como problemas a serem superados. “Temos três grandes vilões: o trânsito, a energia estacionária e os resíduos sólidos”, elencou, lembrando que “não existe no mundo o termo ‘jogar fora’, porque tudo continua dentro do planeta”.
Liderança mundial – Na visão da diretora de Novas Economias da Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Sissi Alves da Silva, a realização da COP30 em Belém é uma oportunidade única, em momento no qual o mundo busca acelerar a transição global para novos modelos de desenvolvimento.
Ela acredita que a economia circular tem papel central na neutralidade de carbono e o Brasil reúne condições de ser um dos líderes desse movimento. “A economia circular pode redesenhar produtos e processos para eliminar desperdícios e emissões”, disse.
Na mesma linha, o representante do Sitra, Mika Sulkinoja, destacou o papel do Brasil na transição energética. “O Brasil é líder mundial em economia limpa e mostra que desenvolvimento e preservação podem caminhar juntos. As parcerias combinam o conhecimento tecnológico nórdico com a escala de mercado do Brasil e provam que a economia circular não é teoria, mas motor de inovação”, afirmou.
Momento crucial – Para Kari Puurunen, cônsul da Finlândia em São Paulo, a humanidade encara seus desafios mais complexos e precisa rever métodos e práticas, de modo a preservar os recursos e proporcionar a sustentabilidade.
“O modelo linear de extrair, produzir, consumir e descartar não atende mais às exigências do nosso tempo. A economia circular oferece uma alternativa sólida, prolongando o ciclo de vida dos materiais, eliminando resíduos e impulsionando a inovação”, resumiu.
Atualmente, cerca de 55% das emissões globais derivam da extração e processamento de materiais, enquanto apenas 6,9% dos insumos utilizados vêm de fontes recicláveis.
Por fim, a Cônsul-Geral da Noruega no Rio de Janeiro, Mette Tangen, ressaltou a necessidade de se realizar um verdadeiro mutirão, um esforço coletivo, em torno da economia circular. “Algo que os países nórdicos sabem fazer bem é unir forças em torno de um objetivo comum. A economia circular é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade, que pode juntar inovação à experiência”.
O seminário foi estruturado em três painéis, que tiveram como temas Combustíveis alternativos para mobilidade; Gestão de resíduos e economia circular; e Tecnologias e soluções circulares da cadeia de mineração.
Considerado como uma ponte entre o WCEF2025 e a COP30, o evento reafirmou o papel estratégico do Brasil em integrar a circularidade às negociações climáticas globais e teve a compensação de carbono realizada pela Solvi.