Os documentos destacam a importância de políticas de baixo carbono, inovação e financiamento para uma transição justa e competitiva. Foto: divulgação
Fiesp / Lúcia Rodrigues
O documento Visão Fiesp – COP30 e o estudo Trajetória das Emissões da Indústria Brasileira foram apresentados na reunião conjunta do Conselho Superior de Desenvolvimento Sustentável (Condes) e do Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS), ambos da Fiesp, na sexta-feira (7/11), coordenada pelo diretor-titular do DDS, Nelson Pereira dos Reis.
Na abertura, Antonio Carlos Costa, superintendente do DDS, explicou que o Visão Fiesp é um documento “overview”, que não tem a ambição de ser um posicionamento formal. “Até porque os temas de negociação da COP já estão bem maduros”, destacou.
Segundo Costa, a ideia da Fiesp é contribuir com as posições do Brasil e reforçar o alcance dos objetivos do Acordo de Paris, respeitando as realidades e desafios de cada país. O objetivo é também mostrar ao governo federal os impactos das medidas que afetarão o setor industrial e como isso pode ser tratado de forma preventiva.
O documento mostra que a Fiesp tem atuado em diversas frentes, acompanhando e contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas que refletem a agenda de ação estabelecida pelos debates internacionais sobre clima.
Costa citou ainda a 4ª Carta da Presidência Brasileira da COP30, divulgada em junho de 2025, que apresenta a “Agenda de Ação” estruturada em seis eixos e 30 objetivos-chave:
1 – Transição nos setores de energia, indústria e transporte: triplicar as fontes renováveis, duplicar a eficiência energética e acelerar o desenvolvimento de tecnologias de baixa emissão em setores de difícil descarbonização.
2 – Gestão sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade: promover investimentos para reverter o desmatamento e a degradação florestal.
3 – Transformação da agricultura e dos sistemas alimentares: recuperar áreas degradadas, ampliar a agricultura sustentável e tornar os sistemas alimentares mais resilientes e adaptados.
4 – Construção de resiliência em cidades, infraestrutura e água: incentivar construções e edificações sustentáveis, desenvolvimento urbano, mobilidade e infraestrutura resilientes.
5 – Promoção do desenvolvimento humano e social: ampliar a educação, a capacitação e a geração de empregos voltados ao enfrentamento das mudanças climáticas.
6 – Objetivos transversais – catalisadores e aceleradores: integrar finanças climáticas e sustentáveis a investimentos e seguros, ampliar o financiamento para adaptação e harmonizar mercados e padrões de contabilidade de carbono.
Costa ressaltou que a Nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, apresentada em 2024 à Organização das Nações Unidas (ONU) durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão, estabelece:
Redução de emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) entre 59% e 67% até 2035, em relação aos níveis de 2005 — o que equivale a atingir entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente.
Neutralidade climática até 2050.
Meta economy-wide (abrangendo toda a economia e todos os gases de efeito estufa).
Compromisso de buscar o desmatamento zero, por meio da eliminação do desmatamento ilegal e da compensação das emissões provenientes da supressão legal da vegetação nativa.
Trajetória das Emissões da Indústria Brasileira
O estudo Trajetória das Emissões da Indústria Brasileira, solicitado pela Fiesp e realizado pela consultoria EOS, tem como objetivo calcular as trajetórias de emissões da indústria nacional entre 2005 e 2050, subsidiando o posicionamento do setor frente aos orçamentos setoriais do Plano Clima. O foco recai sobre seis segmentos energo-intensivos (grandes usuários de energia): siderurgia, cimento, química, papel e celulose, vidro e alumínio.
William Wills, sócio-diretor da EOS Consultoria, afirmou que o relatório busca contribuir para o debate sobre a melhor forma de compatibilizar os compromissos climáticos do país com a necessária revitalização da indústria, orientada por uma agenda de baixo carbono, inovação e competitividade global.
Ele explicou que a metodologia do estudo foi estruturada em três etapas principais: engajamento setorial e definição de premissas básicas; construção das trajetórias de atividade e de emissões setoriais; e agregação e análise das emissões para comparação com o orçamento de carbono proposto pelo governo.
Nas considerações finais, o estudo conclui que o cumprimento do orçamento de carbono proposto para a indústria em 2035 é tecnicamente viável no cenário condicionado, em que os setores tenham acesso a financiamento para tecnologias de baixo carbono, apoio regulatório e políticas públicas adequadas. Entre as recomendações, estão:
Disponibilização de linhas de crédito específicas para tecnologias industriais de baixo carbono;
Revisão e modernização de marcos regulatórios, ampliando a flexibilidade tecnológica e econômica;
Estímulo à inovação, à substituição de matérias-primas e à eficiência energética;
Coordenação entre políticas industriais, energéticas e climáticas.
“Sem ações adicionais, o cenário de referência fica no limite do orçamento em 2035”, alertou Wills.
O documento também enfatiza que metas mais ambiciosas para o período pós-2035 exigem a implementação de tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS), expansão do uso de hidrogênio verde, eletrificação e acesso a energia renovável a preços competitivos.
Os principais desafios para a indústria cumprir as metas de redução de emissões de GEE após 2035 envolvem barreiras econômicas, tecnológicas, políticas e de gestão — como altos custos de transição, dificuldade de acesso a financiamento verde, competitividade internacional e adoção de tecnologias de baixo carbono.
“Os desafios estruturais são formados por custo de capital, logística e o Custo Brasil”, concluiu William Wills.