Kátya Desessards: ESG além do tamanho

Médias e grandes empresas vivem dilemas diferentes, mas dividem o mesmo futuro

Entre capital abundante e escolhas cirúrgicas, o ESG revela que sustentabilidade não é luxo corporativo — é sobrevivência estratégica.

Nunca julgue um livro pela Capa. Por mais linda que seja a capa e o título chamativo, às vezes é só o marketing que é bom. E o contrário também serve. Aquele ditado do tempo da minha avó: “Quem vê cara, não vê coração” é pura verdade. Eu já “salvei” pérolas literárias dos sebos. Assim, da mesma maneira, quando falamos de ESG, é tentador imaginar que grandes corporações e empresas médias jogam em campos distintos. Mas a verdade é que, em 2025, o jogo é o mesmo: só mudam os recursos, a pressão e a velocidade de adaptação dependendo do setor ou segmento de mercado.

O Panorama Sustentabilidade Corporativa 2025, realizado pela Humanizadas e Amcham-Brasil, mostrou que 76% das empresas brasileiras já adotam práticas sustentáveis com algum grau de maturidade, um salto de 5 pontos em relação ao ano passado. O dado revela que tanto médias quanto grandes empresas estão se mexendo, ainda que por razões diferentes. Mas fato é que está havendo sim um olhar mais comprometido e direcionado à condução das pautas ESG dentro das empresas.

É importante aprender com quem já está desenvolvendo ações.

Grandes empresas do agronegócio, como Amaggi e SLC Agrícola, têm musculatura financeira para investir em rastreabilidade, agricultura regenerativa e compromissos de desmatamento zero. São exemplos de como escala e governança robusta podem transformar práticas ambientais em vantagem competitiva. Já no setor de papel e celulose, Klabin reforça que integrar ESG à estratégia não é apenas sobre reputação, mas sobre garantir acesso a mercados globais cada vez mais exigentes.

Do outro lado, empresas médias precisam ser mais cirúrgicas. Sem cofres infinitos, elas buscam soluções ESG que tragam retorno rápido e tangível. É o caso da Algar Agro, que reforçou, em 2025, iniciativas de eficiência energética e inclusão social como forma de reduzir custos e ampliar impacto. Outro exemplo é a Dattos, que transformou transparência em diferencial competitivo no setor tech, mesmo sem obrigação legal. Essas empresas mostram que ESG pode ser menos sobre imagem e mais sobre inteligência de sobrevivência.

Como citei acima, o tamanho nem sempre importa, mas a postura e a verdade que se aplica é que vão determinar quem você (sua empresa) é no mercado. Outro exemplo no agro é a Sementes Com Vigor (SCV), uma sementeira pioneira do plantio direto e adepta da agricultura regenerativa em suas fazendas em Muitos Capões, Norte do Rio Grande do Sul.  A SCV é percebida por grandes multinacionais parceiras como referência na produção e manejo da soja, milho e trigo. Inclusive, a empresa é exemplo também na condução da sucessão familiar.

A governança também marca diferenças. Grandes corporações já contam com conselhos estruturados e políticas de compliance consolidadas. Médias, por sua vez, ainda estão em processo de profissionalização, mas encontram no ESG um atalho para acelerar essa maturidade. O estudo da consultoria BDO Brasil, mostrou que apenas 39% das empresas possuem um departamento específico de ESG, mas muitas médias estão usando a pauta como catalisador para estruturar processos internos.

E há, ainda, a questão da pressão externa. Grandes são cobradas diariamente por acionistas, pela mídia e pelo mercado. Médias sentem menos holofotes, mas enfrentam exigências indiretas: cadeias de fornecedores que pedem certificações, bancos que condicionam crédito a práticas sustentáveis e consumidores cada vez mais atentos e implacáveis com marcas que poluem. Em ambos os casos, ESG deixou de ser “moda” e virou critério de competitividade e de estagnação.

O curioso é que, apesar das diferenças, há uma semelhança essencial: tanto médias quanto grandes estão descobrindo que ESG não é sobre agradar reguladores ou investidores, mas sobre garantir relevância no futuro. Segundo Elaise Sestrem, especialista em ESG, “ele deve ser visto como prática de gestão, não como bandeira política”. E talvez pelo uso inadequado da pauta ESG por políticos, entraves e desinteresses tenham se cristalizado em algumas mentes…

Mas é preciso também olhar para os setores onde o ESG ainda patina

A Vale, gigante da mineração, mesmo com avanços em relatórios, continua carregando forte passivo socioambiental e na sua IMAGEM está ‘grudada’ a lembrança dos desastres de Mariana e Brumadinho. Já na indústria têxtil de médio porte, muitas empresas seguem sem rastreabilidade da cadeia de fornecedores, com denúncias de trabalho precário e baixo investimento em práticas ambientais.

Esses exemplos negativos mostram que, quando ESG não é prioridade, o custo vem em forma de reputação arranhada, perda de mercado e desconfiança social.

E fico sempre a ‘matutar’ e pergunto: “Realmente vale a pena viver nessa gangorra!?

“Faz sentido deixar de investir em melhores práticas, para ‘economizar’ 2 ‘tostões’ e, logo mais, ter que desembolsar milhares de reais ou dólares para arrumar ou refazer o que poderia ter sido evitado!??”

Este ano, com a COP-30 acontecendo em Belém do Pará e o avanço do mercado de carbono, o Brasil vive um momento decisivo. Grandes empresas puxam a fila, mas médias têm a agilidade para inovar sem amarras. No fim, o tamanho importa menos do que a coragem de transformar. O protagonismo para o ESG ser percebido como ativo e não passivo é — totalmente — dos empreendedores e das empresas que entendem que agir é melhor que reagir.

E como provocação final, deixo para você a frase de Claudinei Elias, CEO da Ambipar ESG: “Apesar de alguns acharem que o ESG é moda passageira, a verdade é que ele veio para ficar — e quem não estiver preparado, provavelmente, sofrerá consequências, sejam elas reputacionais, financeiras ou judiciais.”  Temos apenas um Planeta Terra…

E aí!?! Vai ficar segurando o ‘abacaxi’ por quanto tempo??? …

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KÁTYA DESESSARDS | Conselheira e Mentora em ESG e Comunicação Estratégica. Integrante do Institute On Life – Co-Autora no livro: Gestão! Como Evoluir em uma Nova Realidade?.

Experiência de 27 anos em diversos setores do mercado.  |  Quer Saber Mais?  CLICK AQUI 


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