Os debates finais do Encontro Anual do Mercado Livre de Energia (EAML 2025), organizado pela Informa Markets em coorganização com a Associação Brasileira de Comercializadores de Energia – ABRACEEL, mostraram que o próximo ciclo do setor elétrico brasileiro será definido por três pilares: flexibilidade, liquidez e segurança de mercado. As discussões reuniram análises técnicas, comparações internacionais e avaliações estruturais sobre os desafios da abertura total.
Luiz Maurer, consultor internacional em estratégia energética, afirmou que o Brasil precisará adotar múltiplos modelos de negócio para lidar com a variabilidade das fontes renováveis. Segundo ele, baterias, resposta da demanda e usinas reversíveis terão papéis complementares. “Flexibilidade é a capacidade de equilibrar oferta e demanda em todos os horizontes de tempo. Não há solução única. É um conjunto de ferramentas”, destacou.
A experiência internacional foi reforçada por Alex Cruickshank, representante da Oakley Greenwood e integrante da Conferência Internacional de Grandes Redes Elétricas (CIGRE). Ele apresentou o caso australiano, país que opera com trinta e cinco por cento de energias renováveis e enfrenta pressões severas sobre uma rede extensa e com baixa densidade populacional.
“Flexibilidade tornou-se uma necessidade sistêmica. Quando a demanda cresce e a rede está no limite, a capacidade de adaptação define a segurança elétrica”, afirmou.
A Colômbia também trouxe sua visão. Diana María Pérez Orozco, da XM, explicou que a modernização do mercado colombiano e o reforço das redes são condições indispensáveis para que mecanismos de flexibilidade funcionem. “O recurso existe, mas sem modernização regulatória, fortalecimento da transmissão e integração de serviços, o benefício não chega ao sistema”, avaliou.
Do lado brasileiro, João Guillaumon, vice-presidente de Clientes e Comercialização da Auren Energia, destacou que a matriz nacional mudou rapidamente e exige redistribuição da flexibilidade ao longo de toda a cadeia. Ele lembrou que a participação das hidrelétricas caiu, enquanto eólica e solar avançaram, com forte peso da geração distribuída. “Vamos precisar de baterias, reversíveis e novos sinais econômicos para os consumidores. A flexibilidade tem que ser distribuída para que o sistema responda de forma eficiente”, disse.
A agenda de segurança de mercado ganhou espaço com a avaliação de Eduardo Rossi, conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Ele detalhou as etapas do monitoramento prudencial, a estrutura de salvaguardas financeiras e os efeitos da nova lei que responsabiliza agentes e gestores. “Segurança de mercado não se resolve com uma medida única. São várias camadas que constroem estabilidade e confiança”, afirmou.
O tema da liquidez e da estrutura de atacado também avançou. Dri Barbosa, CEO da N5X, destacou que modelos com contrapartida central aumentam previsibilidade e reduzem fricções. “Ambientes padronizados ampliam liquidez e permitem que compradores e vendedores operem com mais eficiência”, explicou.
Na visão jurídica e operacional, Camila Salvetti Mosaner Batich, CEO da BBCE, reforçou entregas recentes relacionadas à supervisão, liquidação multilateral e atualização contratual. Ela lembrou que o ajuste do contrato padrão e a estrutura de liquidação reduzem complexidade e fortalecem a gestão de risco. “Segurança precisa ser equilibrada. É isso que sustenta a expansão sustentável desse mercado”, afirmou.
Ao final dos debates, o setor deixou claro que o próximo ciclo de abertura exigirá coordenação entre regulação, mercado, operação e infraestrutura. Flexibilidade, liquidez e segurança formam a base das decisões que orientarão consumidores, agentes e investidores nos próximos anos.