Salão do Automóvel revela futuro do setor automotivo

Enquanto carros futuristas chamam atenção do público, fabricantes destacam desafios para nacionalização da cadeia, eletrificação e uso da inteligência artificial. Foto: Salão do Automóvel/Divulgação

CNI
Amanda Maia
amanda.maia@cni.com.br

Carros futuristas que parecem de um filme de ficção – e que, literalmente, saíram da clássica franquia Velozes e Furiosos – roubam a cena no maior encontro da indústria automotiva da América Latina. O Salão do Automóvel de São Paulo atrai um público diverso, de famílias interessadas nas experiências imersivas a fãs e consumidores ávidos para ver de perto e testar os próximos lançamentos.

Após sete anos, o Distrito Anhembi recebeu, de 22 a 30 de novembro, a 31ª edição do evento, com quase 30 marcas e mais de 300 veículos expostos. Enquanto os visitantes se deslumbram com os chamados carros voadores e carros conceito, que não estão à venda, mas antecipam tendências arrojadas de design e funcionalidade, fabricantes e montadoras encaram, nos bastidores, os dilemas e desafios das inovações tecnológicas que de fato moldam o mercado.

Em parceria com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou uma visita ao evento, na sexta-feira (28), com especialistas do setor e representantes dos Poderes Legislativo e Executivo em mais uma edição do programa Conhecendo a Indústria. O objetivo era entender como a inteligência artificial e outras tecnologias estão sendo utilizadas para manter a competitividade da indústria nacional.

A advogada da CNI especialista em IA Christina Aires lembra que existe um projeto de lei em discussão no Congresso Nacional e a indústria está preocupada em diferenciar as aplicações da inteligência artificial no setor, que impulsionam a produtividade e melhoram a segurança e a inclusão de trabalhadores, das aplicações de alto risco previstas no PL, que usam dados pessoais e podem impactar nos direitos fundamentais, na saúde e na democracia.

“É importante que os parlamentares e o governo tenham a visão do uso da IA na indústria para que entendam a necessidade de incluir no PL a conceituação do baixo risco, e os respectivos critérios de exceção ao alto risco, de forma a adequar a proporcionalmente a carga regulatória e de fomento. Fazendo uma analogia com um sinal de trânsito, no PL, o sinal só possui luzes vermelhas e amarelas, indicando os riscos vedados e o alto risco. É necessário incluir a luz verde do baixo risco, como existe na regulação europeia”, compara.

Uso da IA começa na linha de produção

Gerente geral de Assuntos Governamentais da Toyota, Bruno Ambrósio destaca que o investimento da indústria automotiva em novos produtos é de longo prazo. Por isso, a empresa, assim como as entidades representativas, acompanha de perto as regulações.

“Se você restringe logo de cara o uso de uma nova tecnologia, você trava o desenvolvimento tecnológico nascente no país. É importante abertura para desenvolver a tecnologia, acompanhar o movimento global, mantendo a indústria brasileira competitiva”, pontua Ambrósio.

Questionado a respeito dos planos da Toyota sobre Inteligência Artificial, Eduardo Zambelli, gerente de Assuntos Governamentais da Toyota do Brasil, conta que, nos próximos 15 anos, os processos produtivos das fábricas terão bastante foco para IA.

Atualmente, a tecnologia é utilizada em algumas atividades administrativas no setor automotivo. “É um investimento baixo com resultado alto e rápido. Um relatório de produção que levava várias horas manualmente, por exemplo, hoje é feito por IA em segundos”, cita.

Zambelli explica que a IA também auxilia nas linhas de produção em sistemas que já identificam por exemplo, por câmeras e sensores, os decalques do chassi e do motor para montagem do veículo, atuando diretamente na melhoria de ergonomia dos funcionários da linha de produção, além de conferir a conformidade da produção em algumas etapas do processo produtivo.

Tecnologias de automação veicular

Entre as tecnologias que tornam os carros mais inteligentes, seguros e eficientes, já são uma realidade sistemas de frenagem automática, assistentes de permanência em faixa e controle de cruzeiro adaptativo (ACC) – que mantém a velocidade definida pelo motorista ou ajusta a velocidade de acordo com a distância do veículo da frente. O gerente de Regulamentação e Homologação do grupo Stellantis, Vilson Tolfo, explica que essas são tecnologias de automação do carro de nível 2, presentes em lançamentos de 2018 para cá.

“São sistemas inteligentes que auxiliam na atenção do motorista, reduzindo os riscos de acidente e falha humana na direção. Mas ainda são tecnologias caras, temos desafios de ampliar a escala e de regulação. Hoje o mercado europeu enfrenta dificuldades com a validação de softwares com IA”, ponderou o gerente da Stellantis.

Para um salto de nível 2 de automação para um carro totalmente autônomo ou voador, como os exibidos no Salão do Automóvel, existe uma longa estrada. Segundo Tolfo, poucos países no mundo autorizam a circulação de veículos 100% autônomos e, quando autorizam, é limitado a certas regiões, como na Califórnia nos Estados Unidos.

Eletrificação veicular no Brasil passa pelo híbrido

Para mostrar outra tendência que veio para ficar, a da eletrificação veicular, o Salão do Automóvel expôs alguns carros apenas com a plataforma, que é a parte inferior da carroceria, e os circuitos que ligam motores, baterias e sistemas inteligentes.

Foi o caso da chinesa Leapmotor, que iniciou as operações no Brasil neste ano após formar uma joint venture com a Stellantis. Das tecnologias presentes nos modelos da marca, destaca-se o ultra-híbrido (REEV), em que o carro roda sempre em modo elétrico, mas com um motor a combustão exclusivamente para o carregamento da bateria.

“O que podemos trazer da tecnologia chinesa e adaptar para o Brasil? Temos um desafio de legislação, precisamos de políticas que incentivem a nacionalização de toda a cadeia”, alerta Adriano Barros, diretor de Assuntos Governamentais, Regulatório e Pesquisa e Desenvolvimento na Stellantis South America. Ele lembra que o Brasil ainda depende da importação de baterias para os veículos elétricos.

Sobre mercado global com foco em nacionalização, Eduardo Zambelli, da Toyota, destaca que a empresa foi pioneira ao lançar o Corolla como o primeiro híbrido flex do mundo, fabricado 100% no Brasil, em 2019. A Toyota também comercializa o sistema Híbrido Flex no modelo Corolla Cross, além de terem lançado no Salão do Automóvel o mais novo modelo com essa tecnologia: Yaris Cross.

Zambelli explica que o sistema Full Hybrid Flex possui uma inteligência de potência que combina motor elétrico, motor a combustão e bateria de alta voltagem, recarregada automaticamente durante a condução e frenagem, permitindo que essa combinação de tecnologia híbrida full com etanol seja uma solução disponível de imediato, prática e a mais sustentável para alcançarmos a neutralidade de carbono da atmosfera.

Não por acaso, o flex deve acompanhar a eletrificação veicular nos próximos anos. O país é referência na produção e uso de biocombustíveis, que contribui para os automóveis brasileiros híbridos flex emitirem menos CO2 que os 100% elétricos de outros países, considerando todo o ciclo de vida do veículo, o chamado “berço ao túmulo”, segundo estudo Caminhos da Descarbonização: a pegada de carbono no ciclo de vida do veículo, da Anfavea.

Em um evento que une presente e futuro, dá para conhecer de perto e testar tecnologias que já estão no mercado e sonhar com aquelas que ainda nem foram criadas.

Conheça seis modelos inovadores exibidos no Salão do Automóvel

  1. GAC GOVY AirCab  

O primeiro carro voador (eVTOL) da marca chinesa foi uma das grandes novidades do Salão do Automóvel. No Brasil apenas para exibição, o modelo tem sistema de propulsão 100% elétrico e estrutura composta por mais de 90% de fibra de carbono aeroespacial.

Design arrojado, híbrido flex e IA: Salão do Automóvel revela futuro do setor automotivo
  1. Civic Type R 

O “mais mais” dos esportivos guarda a memória afetiva do filme Velozes e Furiosos. O carro, conhecido pela técnica de pilotagem punta-tacco, tem um sistema de nuvem integrada que reconhece o autódromo em que o motorista está e as pessoas que já correram na pista para fazer um ranking.

Design arrojado, híbrido flex e IA: Salão do Automóvel revela futuro do setor automotivo
  1. Edição especial do Abarth – Stranger Things 

Criado no mundo real e inspirado no mundo invertido, o modelo Abarth de Stranger Things tem rodas ampliadas, aerofólio, saída dupla de escapamento, badge e bancos esportivos com tentáculos do Demogorgon.

Design arrojado, híbrido flex e IA: Salão do Automóvel revela futuro do setor automotivo
  1. Projeto flying car da CAOA 

A CAOA trouxe para São Paulo, cidade entre as maiores frotas de helicópteros do mundo, o conceito de eVTOL, ou carro voador. O veículo tem espaço para dois passageiros e pode desacoplar da carroceria para voar só com a cápsula.

Design arrojado, híbrido flex e IA: Salão do Automóvel revela futuro do setor automotivo
  1. Jeep Convoy 

O carro conceito da Jeep é uma picape militar inspirada no Gladiator, modelo de 1962 que foi a primeira picape do pós-guerra projetada para uso civil. Além da cor externa especial fosca, tem portas e capota em marrom escuro, paralamas alargados, rodas mais agressivas e pisos revestidos em verde militar.

Design arrojado, híbrido flex e IA: Salão do Automóvel revela futuro do setor automotivo
  1. Dolce Camper 

Uma mistura de Uno com uma mini van futurista, o carro conceito da Fiat é marcado por uma linguagem digital em Pixel Modern Design e inspirado em Lingotto – pista de teste que ficava no topo do edifício da antiga fábrica da Fiat em Turim. As cores homenageiam o bioma brasileiro, especialmente o Cerrado.

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