Gestores e empresários reunidos para discutir estratégias que fortalecem as pequenas indústrias no Brasil
Viajei de Brasília a Salvador (BA), onde o clima quente combina com a recepção calorosa: uma fita do Bonfim, uma cocada tradicional e um “bem-vindo à Bahia” entoado com sotaque. Mas não vim apenas pela cultura. Estou aqui para acompanhar gestores da indústria e representantes do Sebrae de 21 estados brasileiros, reunidos nesta quinta (11) e sexta-feira (12) para debater o futuro das micro e pequenas indústrias no país.
O Encontro de Gestores faz parte do Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias (Procompi), que apresenta os resultados do ciclo 2023-2025, compartilha aprendizados e aponta caminhos para o próximo capítulo: o Novo Procompi.
Promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Sebrae Nacional, o Sebrae Bahia, a Federação das Indústrias da Bahia (FIEB) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL-BA), o evento reúne palestras, painéis e relatos de projetos com foco em inovação, transformação digital, sustentabilidade e política industrial.
Com 23 anos de existência, o programa está consolidado em todo o país. Apenas entre 2023 e 2026, foram executados 140 projetos, com média de 19 empresas atendidas, totalizando 2.718 indústrias beneficiadas.
O presidente da FIEB reforça a importância da integração entre micro e pequenas indústrias e o Sistema Indústria para impulsionar produtividade e competitividade
Na abertura, o presidente da FIEB, Carlos Henrique Passos, ressaltou o papel estratégico do Procompi ao integrar micro e pequenas indústrias à cadeia produtiva.
“Mesmo com todos os resultados, podemos ir além, aproximando ainda mais os serviços do Sebrae e do Sistema Indústria. O Procompi pode promover essa eficiência de forma integrada”, reforçou o presidente da FIEB.
Já diretor técnico do Sebrae Bahia, Franklin Santos, mostrou que a baixa produtividade continua sendo o maior gargalo enfrentado pelas pequenas empresas no Brasil. “Não podemos concentrar esforços apenas onde os resultados aparecem mais rápido. É preciso se desafiar a chegar a novos lugares. Para termos escala e resultado ao mesmo tempo, precisamos criar espaço para evoluir”, afirmou.
Kelly Valadares, do Sebrae, destaca a união do Sistema Indústria em liderança conjunta para apoiar micro e pequenas empresas e ampliar resultados
Como unir forças pode transformar a pequena indústria?
A superintendente do IEL-BA, Edneide Lima, reforçou a importância da ação conjunta do Sistema Indústria. “Quando falamos em Sistema, não é só Bahia: é uma força nacional. O Procompi amplia o alcance às empresas que ainda não tinham acesso. Só em 2023, na Bahia, foram mais de 300 atendidas em 17 projetos, somando mais de 500 no total”, enumerou.
Para a coordenadora de Indústria do Sebrae, Kelly Valadares, o encontro simboliza um divisor de águas. “Há muitas empresas que precisam do nosso atendimento, temos que estar atentos. Vivemos um momento de política industrial, que não se resume a governo ou estado. É hora de aproveitar todas as oportunidades”, destacou.
Edineide Lima, do IEL-BA, reforça a importância da ação conjunta do Sistema Indústria para ampliar o alcance do Procompi às pequenas indústrias
Tecnologia, IA e política industrial
A programação também discutiu como tecnologias digitais e inteligência artificial estão chegando às pequenas indústrias. O pesquisador do CIMATEC, André Oliveira, ressaltou que a transição digital é um caminho sem volta. “A inteligência artificial vai se tornar uma commodity. Quem não adotar agora, vai perder espaço”, alertou.
Fabrício Silveira, superintendente de Política Industrial da CNI, reforçou que a IA não é apenas para grandes corporações. Pequenas empresas podem começar com aplicações simples.
“As pequenas indústrias são justamente as que têm mais potencial de ganho com esse processo. Hoje elas podem acessar informação, capacitação e até financiamento via Sebrae, Senai e NACs. A IA tem potencial de revolucionar tudo, inclusive a forma como os trabalhadores atuam dentro da empresa”, reforçou.
Fabrício Silveira, da CNI, destaca como a inteligência artificial e a política industrial podem impulsionar a produtividade e a competitividade das pequenas indústrias
Casos que inspiram
Um dos exemplos de sucesso veio da cadeia de fornecedores da mineração, um projeto conduzido pelo Procompi, em parceria com a FIEB, IEL-BA e a empresa Pan American Silver, que promoveu capacitação em ESG para pequenas empresas. Ao todo, 35 pequenas indústrias participaram, alcançando redução de custos, aumento de produtividade e maior engajamento.
“O projeto trouxe um novo nível de maturidade para empresas e colaboradores, por ser algo que todos podem fazer. Introduzir pequenas indústrias à transformação digital é um caminho que estamos interessados em apoiar”, afirmou André Silva Souza, diretor Financeiro da Pan American Silver / Jacobina Mineração.
Outro destaque por aqui foi a história da Priscila Santos, chef especializada em gastronomia funcional e infantil e fundadora da éDolce, marca que oferece produtos sem glúten, leite e açúcar. Motivada por suas próprias experiências, com restrições alimentares devido a doenças autoimunes, Priscila desenvolveu soluções inclusivas e inovadoras, hoje voltadas também para o mercado internacional e franquias.
Priscila Santos, empreendedora da éDolce, compartilha como o Procompi ajudou a transformar seu negócio e ampliar oportunidades no mercado de alimentação funcional e inclusiva
Ela compartilhou o impacto direto do apoio do Procompi:
“Eu, como mulher e nordestina, tenho rompido vários estigmas graças ao apoio de vocês. Aprendi que é assim que o networking acontece: amadurecemos nossos projetos com os conhecimentos que recebemos. Quando desenvolvi o waffle sem glúten, sem leite e vegano, percebi que havia potencial para explorar e, principalmente, exportar. Assim começou o desejo de crescer. Aprendi a cadastrar minhas ideias, planejar estrategicamente e, ao mesmo tempo, viver um plano emergente enfrentando pandemia, variação de preço de embalagem e desafios de produção. Mas tudo isso, só porque estou dentro do Sistema S há todo o tempo, todos vocês me guiaram em pontas diferentes. Sou muito grata por essas parcerias, que impulsionam as pequenas empresas a crescerem. Hoje, a éDolce já abraça um mercado mais amplo e oferece produtos inovadores, acessíveis e de qualidade, graças ao apoio especializado que recebo aqui.” – Priscila Santos, empreendedora da éDolce.
Gestores, especialistas e empreendedores reunidos no Encontro Nacional do Procompi, discutindo inovação, produtividade e o futuro das micro e pequenas indústrias brasileiras
Construindo a indústria do futuro
O encontro em Salvador mostrou que fortalecer micro e pequenas indústrias vai muito além de números: trata-se de construir uma indústria mais competitiva, inovadora e sustentável. À medida que o novo ciclo do Procompi se inicia, a aposta é em integração, acompanhamento contínuo e fortalecimento de conexões.
