O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou oficialmente hoje, durante a cerimônia de abertura da 35ª Conferência Anprotec, o livro Evolução, Impacto e Potencial dos Parques Tecnológicos do Brasil. A publicação inédita consolida dados, análises e diretrizes estratégicas para o fortalecimento dos ambientes de inovação em todo o país. O lançamento foi conduzido por Daniel Almeida Filho, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, com a participação de Adriana Ferreira de Faria, presidente da Anprotec e coordenadora técnica da pesquisa realizada pelo Núcleo de Tecnologias de Gestão (NTG) da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
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Uma radiografia do ecossistema nacional de inovação
Baseado em dados robustos da Plataforma MCTI-InovaData-Br (atualizados até janeiro de 2025), o livro revela que o Brasil conta atualmente com 113 iniciativas de parques tecnológicos: 64 em operação, 42 em implantação e 7 em planejamento. Esses parques em operação abrigam 2.706 empresas e organizações distribuídas por todas as regiões do país, demonstrando a vitalidade do ecossistema.
A obra celebra os 40 anos do MCTI e das políticas públicas de apoio aos ambientes de inovação no Brasil, oferecendo um panorama estratégico sobre o papel dos parques tecnológicos como vetores de desenvolvimento sustentável e competitivo. O estudo propõe um modelo sistêmico de análise fundamentado na Hélice Tríplice (universidade, empresa e governo), destacando o papel dos parques como organizações intermediárias capazes de mobilizar atores e recursos para transformar conhecimento em inovação.
Crescimento e impacto mensurável
Durante o lançamento, Adriana Ferreira de Faria apresentou dados que demonstram o impacto concreto dos parques tecnológicos no desenvolvimento econômico brasileiro. Entre 2017 e 2023, as empresas vinculadas aos 64 parques em operação registraram um crescimento extraordinário:
Faturamento total: aumento de 170% no período
Faturamento médio por empresa: crescimento de mais de 30%, evidenciando o efeito intensivo do ambiente de inovação
Patenteamento: aumento superior a 100%
Emprego médio por empresa: crescimento de 26 para 29 funcionários (mais de 10% de aumento)
“Esse efeito intensivo que vem do ambiente provocado pelos parques vai se desdobrar em todos os outros indicadores”, explicou Adriana, ressaltando que entre 2017 e 2023 foram apoiados mais de 14 mil empreendimentos ou projetos, demonstrando o funcionamento do funil de inovação que seleciona e desenvolve as iniciativas de maior potencial.
O perfil das empresas de base tecnológica
A publicação traz pela primeira vez uma caracterização precisa das empresas vinculadas aos parques tecnológicos brasileiros. Das 2.706 empresas, os dados revelam que 27% do quadro de funcionários é composto por pessoas graduadas e outros 27% por mestres e doutores, confirmando o caráter intensivo em conhecimento dessas organizações.
“Isso é o significado de uma empresa de base tecnológica”, afirmou Adriana, citando estudos da National Science Foundation que indicam que para cada emprego de alta qualidade gerado nessas empresas, são criados mais 2,3 a 2,9 empregos adicionais em toda a economia. “É isso que os nossos parques tecnológicos representam.”
Um sistema jovem com potencial de crescimento
A coordenadora da pesquisa destacou que os parques brasileiros são relativamente jovens, com idade média de 12 anos e mediana de 8 anos. “São parques muito jovens que precisam ser mantidos, com apoio e financiamento de forma perene, para que de fato eles possam alcançar aquilo que nós esperamos”, alertou.
Os estudos econômicos apresentados no livro mostram que o processo de povoamento de um parque tecnológico segue uma curva exponencial, com ponto de inflexão aos 12 anos de idade e povoamento pleno após 20 anos de operação. “Se nós obtivemos esses resultados com os nossos parques ainda jovens, imagine daqui 10, 15, 20 anos, quando esse sistema de parques tecnológicos que nós estamos semeando hoje se tornarem maduros e alcançarem seu potencial”, projetou Adriana.
Alinhamento estratégico com a Nova Indústria Brasil
O livro enfatiza a contribuição dos parques tecnológicos para a Nova Indústria Brasil (NIB) e para o desenvolvimento de setores estratégicos como saúde, transição energética e transformação digital. Em um momento de aceleração tecnológica global — impulsionada por inteligência artificial, biotecnologia e energias renováveis —, a publicação reforça a necessidade de políticas públicas que reduzam assimetrias regionais e promovam soberania produtiva.
O foco em deep techs (empreendimentos com base científica profunda) posiciona o Brasil como possível líder global, conectando produção científica ao mercado. O conteúdo explora dinâmicas sistêmicas, como o suporte governamental — com investimentos de R$ 670 milhões via Finep e FNDCT para 56 parques — e analisa programas, serviços e indicadores de inovação das empresas vinculadas, com comparações internacionais de ecossistemas líderes como Estados Unidos, Coreia do Sul e Israel.
A importância do planejamento para políticas públicas efetivas
Daniel Almeida Filho ressaltou durante o lançamento a importância estratégica da publicação para o planejamento de políticas públicas, definindo o trabalho como “crítico para o planejamento das políticas públicas de ciência e tecnologia no Brasil”. “Se a gente não entende onde estamos, a gente não sabe onde vai chegar”, afirmou o secretário, explicando como o livro permite “utilizar as experiências internacionais e de todo o histórico que a gente tem nesses últimos 40 anos para delinear quais são os próximos passos relevantes que a gente pode dar na política de parques tecnológicos no Brasil, para conseguir avançar de forma com passos seguros e sustentáveis.”
O secretário alertou para a necessidade de evitar a criação de “elefantes brancos” — estruturas físicas que não cumprem seu papel estratégico por falta de interação com o setor acadêmico e produtivo. “A gente está também delineando agora novas políticas públicas para fortalecer cada vez mais. Não só construir, mas dar vida a esse espaço”, destacou Daniel, considerando o trabalho de maior importância para o planejamento das políticas públicas de ciência e tecnologia no Brasil.
Ferramenta para gestores e formuladores de políticas
A metodologia de construção do texto combina análises quantitativas (indicadores como número de empresas, investimentos e patentes) e qualitativas (estudos de caso), utilizando dados da série histórica de 2018 a 2024. A abordagem permite uma avaliação holística, identificando pontos fortes como o crescimento de empresas e áreas de melhoria como assimetrias regionais.
“Esse documento é muito importante para nós gestores, para que ele nos auxilie na gestão do nosso parque, na gestão do nosso ambiente”, afirmou Adriana, explicando que o livro traz informações detalhadas sobre processos de governança, gestão, programas e melhores práticas internacionais, permitindo instrumentalizar gestores públicos para políticas cada vez mais assertivas.
No prefácio, a ministra Luciana Santos afirmou que o livro simboliza o amadurecimento das políticas de inovação no Brasil e reforçou que os parques “são plataformas de colaboração entre universidades, empresas e instituições de pesquisa, transformando conhecimento em soluções práticas e competitivas. Que os próximos 40 anos de inovação no Brasil sejam ainda mais prósperos, guiados por princípios éticos e inclusivos.”