A Plenária 03 da 35ª Conferência Anprotec, realizada nesta quarta-feira (15), explorou como tecnologias emergentes transformam profundamente modelos de negócio, dinâmicas de ambientes de inovação e estruturas de ecossistemas colaborativos. Inteligência artificial, internet das coisas, computação em nuvem, blockchain e 5G não são mais tendências, mas condições essenciais de sobrevivência e reinvenção. Moderada por Rafael De Tommaso do Valle, gerente de Inovação Tecnológica da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, a discussão abordou transformações tecnológicas, culturais e estratégicas exigidas pela era digital.
A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa atua como infraestrutura fundamental de conectividade científica brasileira desde a introdução da internet no país. De Tommaso do Valle contextualizou seu papel atual como integrador de universidades, centros de pesquisa e ecossistemas, promovendo parcerias e soberania tecnológica através de soluções desenvolvidas por instituições nacionais. Essa infraestrutura de camadas de serviços funciona como base para inovação colaborativa sem dependência de tecnologias estrangeiras, elemento estratégico em discussões sobre transformação digital.
A infraestrutura técnica emergiu como vetor crítico para qualquer transformação digital efetiva. Irineu Mario Colombo, diretor superintendente do Itaipu Parquetec, apresentou avanços concretos em conectividade de próxima geração. Um dos primeiros laboratórios de rede 5G privativa oferece velocidade 4,8 vezes maior, largura de banda duplicada e redução significativa de latência. Contudo, Colombo alertou para gargalo frequentemente negligenciado em discussões sobre revolução digital: “Sem fibra, não existe 5G pleno. Sem o 5G, a internet das coisas não escala”.
Na visão de Colombo, infraestrutura de dados é apenas parte de um quebra-cabeça complexo. Velocidade e processamento exigem simultaneamente energia, segurança de criptografia e armazenamento. O diretor mencionou trabalhos com a Rede Nacional de Pesquisa e exploração de tecnologias alternativas para reduzir custos de instalação. O ponto central é que tudo isso deve funcionar em paralelo ou o sistema falha. Essa integração de componentes tecnológicos é pré-requisito para qualquer ecossistema de inovação que pretenda operar em ambiente digital.
Modelo de inovação colaborativa operacionaliza essa integração em escala. José Henrique Videira Menezes, gerente de Mobilização Empresarial da Embrapii, detalhou como a instituição mobiliza recursos através de 91 unidades credenciadas distribuídas pelo Brasil: 46 no Sudeste, 17 no Sul, 17 no Nordeste, 6 no Centro-Oeste e 5 no Norte. Investimentos superiores a 800 milhões de reais envolvem mais de 80 projetos executados, 140 empresas associadas e 8 mil profissionais capacitados. O volume demonstra alcance de operação em diferentes territórios.
Parcerias estratégicas ampliam capacidade de mobilização e transformação. Menezes destacou aporte de cerca de 200 milhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social em sete áreas estratégicas, incluindo tecnologias para o Sistema Único de Saúde, manufatura avançada e bioeconomia. Esses recursos aceleram soluções que integram academia, empresas e cidadãos em redes colaborativas, operacionalizando conceito de ecossistema integrado que vai além de setores específicos.
Para Menezes, a transformação digital exige muito mais que equipamentos. “Não é apenas tecnologia. Envolve integração entre academia, empresas, governo”, argumentou. A convergência de dispositivos IoT com nuvem e processamento de dados em tempo real só funciona quando trabalho em rede é priorizado. Citou parcerias com ministérios da Saúde, Inovação e Educação como exemplos de operacionalização dessa integração, com foco em criar centros de competência em áreas de fronteira tecnológica.
Desafios de inclusão atravessam a transformação digital em qualquer setor. Paulo Henrique Montagnana Vicente Leme, coordenador do Agritech UFLA, utilizou o agronegócio como caso de estudo para ilustrar dilema maior. “O Brasil rural está mais conectado, mas ainda não está transformado”, afirmou. Conectividade não é o fim, apenas o meio. Enquanto produtores rurais possuem smartphones, barreiras significativas impedem adoção real de tecnologias digitais entre pequenos e médios produtores.
Leme destacou iniciativas práticas do Agritech UFLA como respostas diretas a desafios de inclusão. O Semear Digital, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, promove a inclusão digital com ferramentas acessíveis para produtores e cooperativas. O Produtor do Futuro, fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais, trabalha com cafeicultura e tecnologias de certificação. Um projeto financiado pela FAPESP envolve distritos agrotecnológicos em diferentes regiões para apoiar pequenos e médios agricultores com letramento digital, elemento crítico frequentemente negligenciado em discussões sobre transformação digital.
Os painelistas convergiram em preocupações que transcendem setores específicos. Colombo alertou para o risco de concentração privada de dados: o setor privado pode capturar informações, vender processamento e manter governança sobre ativos críticos. Propôs a necessidade de políticas públicas para data centers próximos a universidades e centros de pesquisa. Leme reforçou o elemento frequentemente esquecido: “De nada adianta ter smartphone se o produtor não consegue usar a ferramenta. Extensão rural digitalizada é diferente de extensão rural tradicional”. O princípio vale para qualquer ambiente profissional.
A discussão evidenciou que a transformação digital efetiva depende menos de tecnologia isolada e mais de ecossistemas verdadeiramente integrados. Exige infraestrutura física, capacitação humana, governança inclusiva e financiamento dedicado funcionando em paralelo. Empresas, ambientes de inovação e ecossistemas que negligenciam qualquer um desses componentes correm risco de transformação digital incompleta, capaz de aprofundar desigualdades em vez de superá-las.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A realização local é do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), da Fundação Araucária, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Governo do Estado do Paraná.