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Segundo levantamento da CNI, quatro em cada 10 empresas indicam a falta de conhecimento em ferramentas como gargalo do setor. Técnicas ajudam a cortar gastos com ganhos de qualidade

CNI: manufatura enxuta – desconhecimento ainda é barreira na indústria da construção

Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, embora seja uma aliada importante para reduzir custos e melhorar a produtividade, a manufatura enxuta ainda é pouco usada. Mais da metade das empresas da indústria da construção não usam ou utilizam poucas técnicas de manufatura enxuta, de acordo com o estudo.

O desconhecimento sobre as técnicas é a principal barreira. Quatro em cada 10 indústrias consultadas atribuem a dificuldade ao alto custo de consultoria ou de implantação e à falta de conhecimento das ferramentas e técnicas. Na sequência, 29% das indústrias mencionam como barreira a falta de qualificação dos trabalhadores.

Manufatura enxuta é um sistema de gestão do processo produtivo focado na redução do desperdício com ganho de qualidade. Criado há cerca de 80 anos, no Japão, contempla técnicas voltadas para reduzir o tempo de produção e eliminar perdas por movimentos desnecessários.

“A falta de conhecimento chama a atenção. Como são métodos de organização da produção, as técnicas de manufatura enxuta costumam ter baixo custo de implementação, por isso o alto custo é uma questão de percepção. Na indústria da construção, a aplicação pode ser ainda mais difícil já que são técnicas que foram pensadas originalmente para a manufatura e processos produtivos repetitivos, e adaptadas aos processos de construção”, explica o analista de Políticas e Indústria da CNI, Inácio Cozendey.

Entre as empresas que adotam o sistema, o Trabalho Padronizado é a principal técnica utilizada (63% das empresas). Em seguida, é mencionado o Programa 5S, que se baseia em cinco sensos – utilização, organização, limpeza, bem-estar e autodisciplina -, citado por 53% das indústrias consultadas ouvidas pela CNI. Outras técnicas, como Gestão Visual e Kaizen, mais específicas para melhorar a qualidade e o custo, aparecem citadas por cerca de um terço das empresas.

Confira o estudo na íntegra.

Tecnologias digitais podem contribuir com a manufatura enxuta
No segmento da construção, o desafio de ampliar o uso de técnicas de manufatura enxuta se torna ainda maior nos dias atuais devido à busca pela automatização dos processos produtivos e ao uso de novas tecnologias digitais. O setor busca se industrializar, isto é, transferir partes do processo construtivo para as fábricas. Isso permitirá que as técnicas de manufatura enxuta e as novas tecnologias digitais se integrem com maior facilidade ao processo produtivo, assim como é feito na indústria de transformação.

“Entender como a integração entre as técnicas de manufatura enxuta e as tecnologias digitais podem aprimorar a gestão e execução dos projetos é uma oportunidade importante para o aumento da produtividade desse segmento. A industrialização da construção civil poderá gerar ganhos importantes de produtividade ao deslocar parte da produção feita no canteiro de obras para fábricas, facilitando a implementação das técnicas e novas tecnologias digitais”, completa Cozendey.

A sondagem da CNI mostra que os empresários da construção estão atentos a esse aspecto. Mais de 90% das empresas consultadas acreditam que o uso de tecnologias digitais contribui para esse processo. Contudo, mais de 40% não usam as tecnologias digitais indicadas.

Entre as empresas que adotam essas ferramentas, duas tecnologias digitais se destacaram como as mais indicadas. Em primeiro lugar, citado por 44% das empresas, estão os sistemas integrados de engenharia para o desenvolvimento e manufatura de produtos. Em segundo lugar, com 32%, estão as ferramentas digitais de relacionamento com o cliente.

O levantamento mostra ainda que as empresas vêm aumentando o número de técnicas de manufatura enxuta usadas. Uma comparação entre a primeira pesquisa, realizada em 2018, mostra que o maior percentual de empresas (39%) adotava de 1 a 3 técnicas. Em 2023, na segunda edição do levantamento, o maior percentual de empresas (37%) disseram usar de 4 a 10 técnicas. O setor de obras de infraestrutura é o que faz o maior uso de técnicas de manufatura enxuta.

Manufatura enxuta possibilita construção em tempo recorde
Em 2023, as fortes chuvas transformaram a cidade de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, em um cenário de tragédia. Inundações e deslizamentos na região deixaram milhares de pessoas desalojadas e desabrigadas. Por meio de ferramentas de industrialização da construção e técnicas de manufatura enxuta, a empresa Tecverde, que participou da primeira fase da construção das casas, conseguiu dar uma resposta rápida para o drama das famílias.

A diretora de ESG e Relações Institucionais da Tecverde, Carla Monich, explica que diferentes iniciativas foram usadas no projeto para encurtar o prazo de entrega. Uma delas foram os Métodos Modernos de Construção (MMC), processos que se concentram em técnicas fora do canteiro de obras, como produção em massa e montagem em fábrica, como alternativas à construção tradicional.

“Nesta obra foram entregues 518 habitações prontas para morar em light wood frame, em apenas 11 meses, prazo que em uma construção em alvenaria convencional seria pelo menos o dobro. A parte da produção e montagem, executada pela Tecverde, durou apenas seis meses”, explica Carla Monich.

A diretora citou ainda a redução das equipes de trabalho. Foram 116 pessoas trabalhando no projeto, sendo 30 no canteiro de obras e 86 na linha de produção. “Esse projeto foi um bom exemplo no Brasil de como a construção industrializada pode viabilizar respostas rápidas em situações emergenciais. Foi um marco não somente para nossa empresa, mas para o setor industrializado no país, que ganha competitividade no setor público para obras desse porte”, destacou.

 

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