Indústria, inovação, crescimento com inclusão social e transição energética foram tema de debate no 10º Fórum do Desenvolvimento, realizado na Fiesp. Foto: divulgação

Caminhos para o desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo

Alex de Souza

“Sem indústria, não há desenvolvimento”. A afirmação é do presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, que abriu o 10º Fórum do Desenvolvimento da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), realizado na terça-feira (6/8), no Salão Nobre da Fiesp.

O evento, transmitido ao vivo pelo canal da Fiesp no YouTube, teve como objetivo promover o debate entre o setor público, o privado e a sociedade civil sobre caminhos para o desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo no Brasil, com foco na transição climática, inclusão social e inovação.

Neste ano, o Fórum integra a iniciativa “Caminhos para a COP”, em preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 2025, a COP30, que será realizada em Belém-PA.

Reindustrialização verde e digital – “O mundo ocidental descobriu, talvez tarde demais, que exportar sua indústria e empregos para a Ásia teve um custo alto. Agora tenta corrigir o erro com tarifas e cortes em inovação, que é um caminho caro e ineficaz”, afirmou Josué.

O presidente da Fiesp entende que o Brasil optou por uma trilha diferente, ao apostar na educação, na inovação e reindustrialização baseada em tecnologia e sustentabilidade. “O país precisa de uma indústria inovadora, digital e descarbonizada, capaz de retomar o papel de locomotiva do crescimento nacional”, defendeu.

Ele disse que a Fiesp tem feito esforços para seguir nessa direção e, para exemplificar, citou duas iniciativas da entidade: a Jornada de Transformação Digital e a Jornada de Descarbonização, voltadas a micro, pequenas e médias indústrias paulistas, com apoio do Senai-SP.

“Já alcançamos mais de 20 mil empresas com a digitalização e pretendemos atingir até 40 mil em cada uma das duas iniciativas. Estamos aumentando a produtividade, modernizando processos e ajudando a descarbonizar a economia”, explicou.

Liderar a economia verde – Josué chamou atenção para o déficit na balança de serviços, citando como exemplo o processamento de dados realizado no exterior. “O Brasil processa cerca de 2,5 gigawatts de dados por segundo, mas 1,5 GW é processado fora do país, o que gera um déficit anual de até US$ 5 bilhões. Podemos mudar isso com investimento local, aproveitando nossa energia limpa e barata”, disse.

Ele propôs que o Brasil tome a dianteira e lidere a revolução energética, uma vez que dispõe de uma matriz energética renovável e das mais baratas do mundo, mas ainda não explora todo seu potencial em energia solar, eólica e biomassa. “Isso nos posiciona como uma possível liderança em tecnologia limpa. É por meio dessa economia inovadora, digital e descarbonizada que vamos crescer com inclusão social”, completou.

ABDE – A presidente da ABDE e diretora de Crédito Digital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Fernanda Coelho, destacou o papel do Sistema Nacional de Fomento (SNF) como indutor do desenvolvimento do país, o que passa pelo desenvolvimento da indústria.

“A história mostra que grandes crises trazem oportunidades. A industrialização veio após a crise da economia cafeeira, e o etanol nasceu com a crise do petróleo. Hoje, temos a chance de criar um modelo baseado na inclusão social, na sustentabilidade ambiental e no pleno exercício da democracia”, pontuou ela.

Coelho destacou os investimentos da nova política industrial brasileira e a expansão do financiamento. “Nos últimos dois anos e meio, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) já direcionou mais de R$ 220 bilhões em crédito. A meta foi ampliada para R$ 300 bilhões até 2026, fortalecendo pequenas, médias e grandes indústrias”.

Competitividade – O presidente do Ciesp, Rafael Cervone, avaliou os desafios estruturais da indústria nacional, que incluem os custos. “O famoso ‘Custo Brasil’ pesa 24% a mais nos nossos produtos industriais, quando comparados aos concorrentes internacionais. Isso vem da tributação excessiva, da logística precária e do crédito caro”, disse.

Ele lamentou o processo de desindustrialização que o Brasil sofreu ao longo de décadas, especialmente entre 1985 e 2024, quando a participação da indústria no PIB caiu de 20,8% para 14,4%.

Ainda assim, Cervone enxerga com otimismo a construção de uma política industrial moderna, apoiada pelo SNF e alinhada à transição verde e digital. “Temos matriz energética limpa, insumos estratégicos e um setor produtivo inovador. Precisamos agora de um ambiente competitivo e previsível”, concluiu.

Oportunidades – Um dos convidados para a abertura do Fórum foi o presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara, que apresentou o potencial da região para ser protagonista nesse novo modelo.

“O Nordeste já exporta 50% da energia que produz e tem grande potencial para liderar a produção de hidrogênio verde”, afirmou. Ele destacou que, só nos últimos dois anos, o banco aplicou R$ 7 bilhões em indústria e agroindústria, com previsão de R$ 5,6 bilhões em 2025.

Já o secretário-executivo do Ministério do Empreendedorismo, Francisco Tadeu Barbosa, lembrou que 98% das empresas brasileiras são micro e pequenas, e que elas precisam ser incluídas no processo de transição verde. “Elas empregam 70% da força de trabalho, mas exportam menos de 1% do volume nacional. O desafio é conectá-las às novas cadeias de valor sustentáveis”, explicou.

E o diretor de Inovação da Finep, Elias Ramos, chamou a atenção para a urgência de aumentar os investimentos privados em Pesquisa e Desenvolvimento. “O Brasil investe apenas 0,6% do PIB em inovação empresarial. Países como Coreia do Sul e China investem até sete vezes mais. Precisamos de políticas que compartilhem os riscos com o setor privado”, disse. Para ele, a política industrial lançada em 2023 é um avanço: “Ela reserva 20% dos recursos para inovação, sinalizando uma visão moderna e estratégica”.

Por fim, a representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, Annette Killmer, indagou: “Qual outro país tem biodiversidade, sistema financeiro sofisticado e setor produtivo inovador como o Brasil? Nenhum. Estamos posicionados para liderar a criação de modelos produtivos sustentáveis e inclusivos”, respondeu.

Ela destacou que o BID tem atuado em parceria com a ABDE e o SNF, com foco especial nas regiões Norte e Nordeste e no apoio emergencial a eventos extremos, como as enchentes no Sul.

Para conferir na íntegra os pronunciamentos e os painéis do seminário, acesse o canal da Fiesp no YouTube.

Rede Brasil Inovador

Aldo Cargnelutti é editor na Rede Brasil Inovador. Estamos promovendo os ecossistemas de inovação, impulsionando negócios e acelerando o crescimento econômico. Participe!

+55 11 94040-5356 / rede@brasilinovador.com.br

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