Evento sobre inovação para o agronegócio, em Florianópolis, teve ingressos esgotados e participação de referências e especialistas do setor. Foto: divulgação

ACATE: AgTech Summit debate a transformação digital para o futuro do agro

Com o objetivo de cultivar um agronegócio inteligente para o futuro, o evento AgTech Summit 2025 promoveu um dia de debates, networking e apresentação de soluções de tecnologia e inovação para desafios do setor. Realizado em formato híbrido, centenas de pessoas de todas as regiões do país participaram remotamente e de maneira presencial, no CIA Primavera, em Florianópolis – onde o auditório esteve lotado na 4ª edição do encontro na última quinta-feira (11).

O AgTech Summit é a iniciativa da Vertical AgTech da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) que visa democratizar conhecimentos sobre a crescente transformação digital que redefine a forma de produzir alimentos. “A ACATE tem o papel de impulsionar o setor de tecnologia e a inovação, visando impactar também outros setores como o agro”, destacou o Presidente da ACATE, Diego Ramos, na abertura do evento. Valder Zacarkim, Diretor da Vertical AgTech da ACATE, complementou: “O AgTech Summit tem o objetivo de gerar conexões, criar oportunidades e levar tecnologias para o mundo. Esse espaço é para reunir produtores, startups, entidades e universidades”.

O Secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Carlos Chiodini, também esteve presente para dar início às atividades do evento e ressaltou a importância das discussões sobre a adoção de tecnologias pelo setor produtivo do agro: “A grande discussão mundial é a segurança alimentar. E nós temos vocação para produzir alimentos e precisamos continuar fazendo isso. Temos o desafio de crescer, mesmo com dificuldades logísticas e de infraestrutura, mas há mercado e espaço para sermos muito maiores. Nesse cenário, só vamos conseguir expandir com inovação e tecnologia ao lado do produtor rural para que, com a mesma área física e mão de obra escassa, seja possível produzir mais”, finalizou.

A programação de conteúdos do AgTech Summit 2025 contou com a participação de referências do agronegócio que abordaram tendências para o futuro e soluções para ampliar a produtividade, a sustentabilidade e a competitividade em toda a cadeia do segmento. Entre os principais temas debatidos, foram destaques: o cenário econômico do setor, inteligência artificial (IA), acesso à internet em áreas rurais e a rastreabilidade na produção agropecuária. Confira abaixo, nesta reportagem, detalhes das discussões das palestras e mesas-redondas.

Esta edição do evento também premiou soluções inovadoras que contribuem para o futuro do agronegócio inteligente. Na final da competição AgTech Day, empreendedores e pesquisadores concorreram a prêmios e tiveram a oportunidade de apresentar ao público do evento as tecnologias desenvolvidas por suas startups ou na academia. Confira os projetos vencedores em suas respectivas categorias:

Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs):

– 1º lugar: Mateus Couto Zanette/CAV-UDESC (Lages) – Primeiro protótipo nacional para mecanização do raleio em macieiras;
– 2º lugar: Lindomar Velho de Aguiar Júnior/CAV-UDESC (Lages) – Poda mecânica na cultura de videira.

Startups (Fora da Porteira):

– 1º lugar: Veros – Inteligência regulatória automatizada para o agronegócio global;
– 2º lugar: Manejo Fácil – Aumentar a produtividade através do uso de automação inteligente no campo.

Startups (Dentro da Porteira):

– 1º lugar: Revellatech – Protetor solar Revella para controle antiestresse abiótico;
– 2º lugar: BioUs Biofábrica OnFarm – Da natureza para a vida, biotecnologia semeando saúde.

O professor Leo Rufatto, do Departamento de Agronomia do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da UDESC, comemorou a vitória dos pesquisadores: “É o segundo ano que participamos e isso mudou completamente a iniciativa dos estudantes, pois é a possibilidade de premiar o esforço que eles têm para fazer algo a mais na academia. O contato com o setor produtivo garante a realização dos estudantes por estarem diretamente ligados com o que é real no mercado de trabalho”.

O Fundador e CEO da startup Veros, Luis Rollof, colebrou a conquista: ‘A oportunidade de fazer um pitch aqui no AgTech Day foi muito legal. A gente consegue demonstrar a nossa solução para o mercado, para um público qualificado, um público que é do agro ou está ligado diretamente ao agro”.

As startups vencedoras, Veros e Revellatech, fazem parte da Vertical AgTech da ACATE, grupo que soma mais de 50 empresas catarinenses que desenvolvem soluções inovadoras para as áreas de agropecuária, agricultura, silvicultura e pescado. Saiba mais e participe da Vertical AgTech.

Entre os patrocinadores do AgTech Summit 2025 também estiveram outras organizações participantes e parceiras da Vertical, entre elas: a AgrinessFazenda CheiaFederação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro)GranterJetbovOCP BrasilSecretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (SAPE/SC)Sistema Faesc/Senar-SC, a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc)Sindicarne e Maneje Bem.

Confira destaques das palestras e mesas-redondas do AgTech Summit 2025:

Panorama do agronegócio brasileiro: economia, tendências e desafios

A primeira palestra do AgTech Summit 2025 foi conduzida por André Debastiani, Sócio-Diretor da Agroconsult – empresa catarinense que atua há 25 anos na transformação de dados em soluções de inteligência para tomada de decisões no agronegócio. Debastiani apresentou uma análise sobre indicadores do setor desde os últimos anos, quando o agro obteve crescimento, até os desafios existentes na atualidade, como: a sobre oferta de produtos e, consequentemente, a queda de preços de commodities, além de inflação no custo de produção, o elevado endividamento dos produtores e as margens de rentabilidade mais ajustadas.

“O momento é de desequilíbrio quando se olha para as principais commodities do Brasil em termos de oferta e demanda. Estamos entrando em um momento recessivo da economia como um todo, e os crescimentos de dois dígitos em relação a consumo, principalmente da China, deixaram de acontecer”, afirmou o Sócio-Diretor da Agroconsult.

Ele também ressaltou que agricultura brasileira faz diferença no mercado mundial pela capacidade de ampliar área produtiva e investimentos em inovação. “O que se colhe hoje no campo, seja em milho, soja, cana e algodão, é muito mais do que era colhido no passado porque o produtor está aberto a investir em tecnologia”. O empreendedor acrescenta que a evolução tecnológica irá gerar oportunidades, entre elas: intensificação dos sistemas de produção, advento da agricultura regenerativa e mecanismos de medição de emissões, expansão da demanda de biocombustíveis e maior participação do mercado de capitais no aporte de recursos financeiros.

Para o futuro, Debastiani projetou tendências como:

– Ritmo de crescimento menor do que nos últimos 10 anos;
– Racionalização no uso de insumos;
– Postergação de decisão de novos investimentos;
– Gestão financeira e governança como fatores cruciais para os negócios.

Inteligência Artificial e acesso à internet no campo

A programação do AgTech Summit 2025 também explorou impactos da transformação digital no campo e os desafios para a implementação de tecnologias na área rural e nas práticas do dia a dia de profissionais e produtores.

A Engenheira Responsável Projetos de Conectividade na Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI/SC), Claudia Rodrigues Botelho, foi uma das participantes dos debates e ressaltou esforços para ampliar a infraestrutura de redes em Santa Catarina: “A internet é hoje um ativo principal para o uso das comunidades. O papel do governo é trabalhar fomentos para incentivar que operadoras e provedores possam levar conectividade”. Ela complementou que a cobertura de internet móvel em áreas rurais catarinenses é de 50,87%, já a de fibra óptica é 42,24% – enquanto, em territórios urbanos, ambas as redes ultrapassam 90% de cobertura – de acordo com dados da Anatel e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), compilados em estudo realizado pela SCTI e a Secretaria de Planejamento do Governo do Estado (SEPLAN/SC).

Além do acesso à internet, os debates destacaram a necessidade de capacitações para que produtores e colaboradores de campo possam melhor aproveitar os benefícios das tecnologias. Vanir Zanatta, Presidente do Sistema OCESC, citou que cooperativas têm atuado para apoiar a difusão de conhecimentos aos mais de quatro milhões de cooperados em SC – que representam mais da metade da população catarinense. “Nós estamos fazendo vários cursos por meio das cooperativas, nos quais sempre tem uma pessoa falando sobre IA e sistemas. Um dos exemplos é o Cooperja do Amanhã para pessoas até 35 anos, que trabalham na lavoura e jovens que trabalham com seus pais”.

Outros palestrantes, Xisto Alves, CEO da Jetbov e Vice-Diretor da Vertical AgTech, e Everton Gubert, CEO da Agriness e Diretor do programa ACATE 1bi, também relataram desafios para maior utilização da IA no agro, por exemplo, o letramento em tecnologia para profissionais e mudanças na cultura das empresas – fatores fundamentais para o futuro em que surgirão novas profissões no setor.

Segundo os dois empreendedores do setor de tecnologia a IA irá evoluir com interfaces para interações mais naturais entre humano e máquina, desenvolvimento de agentes especialistas e orquestrados para reunir conhecimentos multidisciplinares, além de melhor aproveitamento de dados gerados por sensores e equipamentos IoT (Internet das Coisas).

Gubert e Alves destacaram que a popularização da IA se deu com o ChatGPT, há cerca de três anos, mas antes disso, a Agriness e a Jetbov já desenvolviam tecnologias com algoritmos e para aprendizado de máquina – ramo conhecido como Machine Learning.

Entre as soluções desenvolvidas ou em desenvolvimento pelas empresas, estão:

– Predição do desenvolvimento de animais a partir de dados de pesagem de animais;
– Previsão da disponibilidade pasto a partir de monitoramento;
– Aplicação de IA generativa para relacionamento com produtores, fornecendo informações, acesso a relatórios, respostas a dúvidas e criação de tarefas para os colaboradores de campo;
– Coleta de dados por imagem.

“Sempre tivemos a visão de integração da decisão do produtor em relação às informações que ele possui dos animais, de custo de produção e o que está acontecendo no pasto”, afirmou Xisto Alves sobre objetivo das soluções desenvolvidas pela Jetbov para gestão de fazendas de pecuária de corte.

Impactos da rastreabilidade na produção agropecuária

Outra mesa-redonda do AgTech Summit 2025 debateu sobre a rastreabilidade no contexto da cadeia produtiva de carne e leite. A identificação de animais para monitoramento de origem e qualidade é alvo do Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB) do Ministério da Agricultura e Pecuária, além da demanda global para garantia de segurança alimentar e controle sanitário.

O bate-papo entre referências do segmento da pecuária e especialistas ressaltou que o rastreamento vai além de uma exigência, sendo um fator que agrega valor, modernização e competitividade aos produtos. “A rastreabilidade que se impõe é o futuro da pecuária brasileira. Não é possível que se enxergue como uma burocracia colocada por mercados externos e, sim, como uma ferramenta estratégica para sustentabilidade, segurança sanitária, gestão e confiança no mercado”, opinou Antonia Scalzilli, Presidente do Instituto Desenvolve Pecuária.

O Brasil possui mais de 238,6 milhões de bovinos, de acordo com dados da pesquisa Produção da Pecuária Municipal 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A meta do PNIB é a identificação de 100% do rebanho até 2032.

O monitoramento dos animais pode ser realizado com dispositivos visuais ou eletrônicos. Durante o debate destacou-se que há oportunidades para unir tecnologias visando transformar a rastreabilidade para além da identificação, mas também para gerar valor aos produtores, por exemplo, com soluções que contribuam para detecção e erradicação de doenças zoonóticas.

Rede Brasil Inovador

Aldo Cargnelutti é editor na Rede Brasil Inovador. Estamos promovendo os ecossistemas de inovação, impulsionando negócios e acelerando o crescimento econômico. Participe!

+55 11 94040-5356 / rede@brasilinovador.com.br

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