A Conferência dos Ministros da Agricultura das Américas 2025 foi aberta na noite de segunda-feira (3), no Palácio do Itamaraty, em Brasília, com um apelo ao fortalecimento do papel do continente como ator-chave da segurança alimentar global e protagonista nas ações de enfrentamento das mudanças climáticas. Organizado pelo Governo do Brasil e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o encontro reúne ministros e vice-ministros de 30 países até esta quarta-feira (5), com o objetivo de alinhar políticas agrícolas regionais e discutir inovação, sustentabilidade e cooperação técnica.
O evento foi inaugurado pelo ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro, que ressaltou a importância do encontro como marco de integração entre os países do continente. “Temos diante de nós uma oportunidade sem paralelo para renovar a cooperação e avançar na construção de consensos que nos permitam viver em harmonia com o planeta”, afirmou.
Fávaro destacou ainda que, na COP30, o agro das Américas terá papel fundamental nas discussões sobre o clima. Ele também elogiou o trabalho do diretor-geral do IICA, Manuel Otero, que encerra o mandato em janeiro, definindo o instituto como “pilar do fortalecimento do setor agrícola continental”.
Na mesma linha, o diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, reforçou que a agricultura das Américas deve ser reconhecida como ativo estratégico para o desenvolvimento sustentável global.
Ele lembrou que o setor está no centro dos desafios contemporâneos — segurança alimentar, estabilidade social e transição verde — e que requer políticas integradas entre governos. “Trabalhamos no IICA com a convicção de que a agricultura, por seu vínculo com a segurança alimentar, a paz social e a ciência, é uma atividade que exige coordenação entre ministérios e políticas integradas. O Brasil mostra um entendimento pleno dessa ideia”, destacou.
Otero também ressaltou que o Brasil é hoje referência mundial em agricultura produtiva, sustentável e inclusiva, e que o trabalho conjunto entre o Ministério da Agricultura e o Itamaraty tem contribuído para abrir novos mercados e difundir tecnologia na região.
Agricultura como eixo de desenvolvimento
O chanceler Mauro Vieira lembrou que a agricultura é uma das bases da política externa e da economia brasileira, responsável por impulsionar o superávit comercial de 2024. Segundo ele, o desempenho do agro é resultado de um modelo produtivo que combina escala, tecnologia e inclusão social.
“A balança comercial brasileira terminou 2024 com um grande superávit, que teve contribuição decisiva do agro. Graças ao desenvolvimento da ciência e da pesquisa, o Brasil deixou de ser importador líquido de alimentos, como era antes de 1970, para se tornar uma potência alimentar e um grande protagonista do agronegócio mundial”, disse. Vieira reforçou ainda a necessidade de cooperação regional baseada em valores comuns, voltada ao combate à fome, à pobreza e à desigualdade — princípios também defendidos pelo Brasil no âmbito de sua política externa.
O presidente da Junta Interamericana de Agricultura (JIA), Luis Alfredo Fratti Silveira, do Uruguai, afirmou que cabe aos países produtores garantir sistemas alimentares sustentáveis e socialmente inclusivos. Ele defendeu políticas que estimulem a permanência dos jovens no campo e valorizem o protagonismo das mulheres na agricultura, destacando que esses grupos representam “o presente e o futuro da produção”.
“Temos a responsabilidade de fornecer ao mundo alimentos acessíveis a todos e produzidos de maneira respeitosa ao meio ambiente. Devemos gerar políticas para o desenvolvimento de nossos setores produtivos”, acrescentou.
Sob o lema “Uma nova narrativa para a agricultura e os sistemas agroalimentares das Américas”, a conferência debate bioeconomia, inovação tecnológica, rastreabilidade e qualidade dos alimentos. O evento também sedia a 23ª Reunião Ordinária da JIA, que elegerá o novo diretor-geral do IICA para o período 2026–2030.
A programação técnica segue até esta quarta-feira (5), com painéis sobre ciência, tecnologia e sustentabilidade nas cadeias produtivas. As conclusões devem orientar a posição conjunta do continente nas negociações climáticas de Belém, consolidando o agro das Américas como vetor de desenvolvimento e parte essencial das soluções globais para o clima e a segurança alimentar.