Solenidade que inclui o Desfile dos Grandes Campeões foi marcada por pedidos de socorro diante do endividamento do agro gaúcho
As queixas e reivindicações de produtores rurais por uma solução para o endividamento do setor primário gaúcho marcaram a inauguração da 48ª Expointer, nesta sexta-feira, 5. Os pedidos de auxílio ao governo federal estiveram presentes nas manifestações da maior parte dos oradores, tendo início desde o primeiro discurso, proferido pelo secretário de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Edivilson Brum, até o último, do governador.
Os pronunciamentos também apontaram que a Medida Provisória assinada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também na manhã desta sexta-feira, é considerada insuficiente para resolver a demanda dos agropecuaristas. O texto prevê a liberação de R$ 12 bilhões para, principalmente, pequenos e médios agricultores que sofreram com secas e enchentes nos últimos anos. “Senhor Ministro, continuaremos apostando no 5122”, disse o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, referindo-se a projeto de lei, em tramitação no Congresso Nacional, que estabelece a securitização das dívidas, com uso dos recursos de fundos constitucionais e do Fundo Social.
Com relatoria do deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), a proposição foi construída com colaboração da Farsul. Lembrando a importância da contribuição histórica do Rio Grande do Sul para a construção da agropecuária brasileira, Gedeão destacou que “não estamos pedindo nada que não possamos receber por direito”.
Mesmo concordando com a avaliação de que os R$ 12 bilhões representam uma ajuda parcial, Gedeão apontou a importância e a validade da medida. “Vamos pegar o que vem. É melhor do que nada. Mas vamos continuar lutando”, afirmou. O presidente do Sistema Farsul advertiu que o constante crescimento da Expointer e realizações demonstradas durante a feira podem dar a impressão de que “as coisas estão bem. Não é verdade. Queiramos ou não, estamos com uma crise climática, cujo epicentro talvez esteja no Rio Grande do Sul”.
Os cinco anos de safras frustradas no Estado, em razão de fenômenos climáticos extremos, fizeram com que o produtor gaúcho deixasse de movimentar R$ 200 bilhões, conforme Gedeão. “Não vai faltar comida na gôndola do supermercado, mas não temos capital para investimentos”, disse Gedeão, exemplificando com a necessidade de ampliação dos projetos de irrigação no RS. “Estamos que nem Tarzan, pendurados, pelados e aos gritos”, resumiu.
Ao abrir a sequência de falas, Edivilson Brum solicitou um minuto de silêncio “aos produtores que tiraram suas vidas por não conseguir honrar compromissos”. À margem da pista central, por onde depois passaram os campeões da exposição, 23 coroas de flores lembravam a ausências dos agropecuaristas ausentes. Os arranjos estavam ornados com faixas com frases como “O agricultor clama por apoio, o governo silencia, o campo veste luto”.
O presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac) e da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, disse esperar “para breve, boas notícias” em favor dos produtores. “Não podemos fazer aqui tosa de porco, com muito grito e pouca lã”, afirmou.
Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) lembrou que “estamos há cinco anos sem uma safra cheia no Estado. Faz cinco anos que a gente vem aqui chorar e pedir ajuda para o poder público”. Joel clamou pela adoção de uma solução que atenda todos os produtores prejudicados pelos extremos do clima.
Sob vaias, Fávaro disse entender “perfeitamente as manifestações, mas peço também respeito. Quando se perde o respeito, se perde a dignidade. Quando se perde o respeito, se perde a razão”.
O governador Eduardo Leite reconheceu a legitimidade das reivindicações dos produtores. Em seu discurso, Leite destacou realizações do governo estadual a favor do agro gaúcho, como a redução em 50% dos crimes de abigeato, os investimentos em recuperação de estradas, a redução da burocracia para a implantação de sistemas de irrigação e o aporte de R$ 150 milhões para postergar dívidas de produtores junto ao Banrisul.
Durante o ato, ocorreu a entrega da Medalha Assis Brasil, tradicionalmente oferecido a personalidades que se destacaram por serviços prestados à agricultura e pecuária. Neste ano, os agraciados são o presidente da OAB/RS, Leonardo Lamachia, Marcos Tang, o diretor da Seapi Paulo Roberto da Silva e ao presidente da CNA, João Martins, que recebeu a honraria quando esteve em Porto Alegre, no dia 31 de agosto.