Mais uma vez, tive que sair do meu cronograma de assuntos para os artigos que planejados… Fui instigada por amigos e leitores a dar minha opinião sobre um assunto bastante sensível.
Escrever sobre o mal que a ‘cultura do jeitinho’ ou da omissão do… ‘deixa pra lá’ ou da ‘não responsabilização’… Este sempre foi um tema que vinha me corroendo a tempos; desde final dos anos 90 quando ainda era uma jornalista iniciante na extinta Gazeta Mercantil.
Escrever sobre o ‘jeitinho’, sobre esse ‘DNA’ que escondemos em metáforas, adjetivos e explicações amenizastes…era um assunto que vinha forte na minha mente, mas não pensava abordar agora…
Mas, o Leitor é “Rei”, não pude ‘deixar pra lá’. Parei tudo e fui pesquisar as conexões e cenários… Mas não espere o óbvio!
O ESG – Environmental (Ambiental), Social e Governance (Governança) promete ambientes mais limpos, despoluídos, sociedades mais justas e solidárias e empresas mais responsáveis e participativas; e os três sendo inclusivos e com relações éticas. No nosso dia a dia, isso se traduz… desde a coleta de lixo seletiva na vizinhança, adoção de políticas de diversidade nas organizações até serviços públicos com qualidade real.
A questão é que tudo sempre é possível! Se aplicado com sinceridade e ética, o ESG melhora a qualidade de vida de todos, gera oportunidades de inclusão e de geração de novos negócios. E, assim, fortalece a confiança na economia.
Mas, dentro desse cenário, sempre há muitas ‘camadas’ de… Se Fosse Feito da Forma Certa!
Tudo começou com: O “jeitinho brasileiro” e a cultura de descumprimento… como ‘regras comuns’…
Fui buscar informações e encontrei uma série de pesquisas realizadas sobre vários aspectos desse tema e confesso, fiquei triste e incomodada. Refleti e reparei que, talvez, já tenha passado por situações que possa ter ignorado os sinais ou não tenha entendido estar incorrendo em erro. E isso me deixou MUITO triste. E ao mesmo tempo, entendi que quando uma cultura é tão enraizada, muitas das coisas que entendemos ser errado, no cotidiano, podemos passar por elas sem perceber e acabamos errando…ou PIOR, aceitando como normal.
Tenho clareza que, mesmo tendo essa lucidez, isso não retira o fato do Erro da minha conta e nem da sua também.
Nas pesquisas que analisei (entre 2022 e 2024), não imaginei que os números seriam tão altos.
No Brasil, boa parte da população reconhece que as leis existem, mas não as segue com regularidade. Isto é, no mínimo, constrangedor. Na pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, mostrou que 43,22% dos entrevistados acreditam que as pessoas raramente obedecem às leis, e outros 12,22% afirmam que elas nunca são cumpridas.
Noutro levantamento, feito pela Datafolha, em 2022, mas em âmbito nacional, revelou que 80% dos brasileiros consideram fácil desobedecer a normas. Esses números escancaram um problema de coesão social e confiança interpessoal que impacta diretamente na aplicação prática do ESG.
Lembram, em artigos anteriores, falei muito sobre o termômetro da ÉTICA !?!? …então, os dados destas pesquisas evidenciam – claramente – uma régua mora e ética’ ‘flutuante’… 🥺 🫣 😶
Vivemos uma Dicotomia Social: “Cara, você quer fazer tudo certinho! Você é muito “chato”!
Já ouviu isso ou já falou essa frase!? Vamos ser honestos. Sim!! Quem paga multa, respeita fila ou devolve troco certo, tem a reputação de “chato” ou “bobo”. Assim, como quem atravessa a rua na faixa de segurança ou quem espera sua vez numa fila.
Isso contrasta, ao mesmo tempo com quem dribla regras — mesmo que, em alguns casos, sem intenção de prejudicar terceiros — é visto como habilidoso e esperto… Esses adjetivos parecem apenas história, mas não temos como ignorar. É uma realidade comum no Brasil de Norte a Sul de Leste a Oeste.
Essa inversão de valores mina a credibilidade das leis e reforça a percepção de que ESG é apenas “mais um conjunto de regras” para enfeitar relatórios, e não um guia de conduta real, plausível e necessário. Mas, pode piorar!
Essas inversões de valores vão ainda mais fundo nas relações entre pessoas. Hoje, estamos com muitos ‘focos de incêndios’…
Os conflitos geracionais no mercado de trabalho é um deles: As empresas relatam dificuldades recorrentes para lidar com expectativas distintas de gerações. No estudo feito pela Fundação Dom Cabral (FDC), em 2023, apontou que 51,6% dos empregadores têm barreiras no convívio
Os estereótipos ‘saltam’ dos dois lados: jovens são tachados de “mimimi” e impacientes, enquanto veteranos são descritos como inflexíveis e ultrapassados. Mas, este cenário não reflete a verdade dos fatos exatamente. O nível alto de Turnover voluntário ou involuntário, está há 10 anos mega alto como nunca se viu.
Na análise de dados entre os maduros, tem havido aumento de Vagas para 50+ e 60+. Daí lhe pergunto: Isso é reflexo ou solução?
FATO. Enquanto o discurso contra o “baixo comprometimento” de profissionais abaixo dos 30 anos se fortalece na percepção e na ação direta de empresários (de grandes, pequenos negócios e startups), surgem com a mesma velocidade oportunidades para quem tem mais experiência. Empresas abrem vagas – em várias funções para os 50+ e 60+ anos, apostando na estabilidade e no know-how de quem já enfrentou crises e mudanças tecnológicas.
Mas será um plano estratégico de ESG para valorizar diversidade etária ou apenas reação a um clichê geracional? Preciso fazer esse questionamento, mesmo ‘gostando’ dessa reviravolta do mercado que está cansando da postura “Tanto-Faz”, “Tô-nem-aí”, “Muitas-regras-não-gosto” ou “Não gosto de falar com pessoas”. Oi!!?? Um verdadeiro ‘circo’ de intolerância de quem levanta bandeiras para exigir direitos. E não ouse discordar…
E a frase que mais me incomoda…“Não-gosto-de-ser-cobrado”… É um festival de personas ‘Sem Noção’ da realidade e sem vontade de assumir compromissos ou de seguir regras básicas de convivência. Claro que todo o cenário tem suas exceções. Nem todo jovem é assim e, de um modo geral, os que vivem cidades do interior sofrem muito menos com esse ‘vírus’ do ‘desapego’ aos compromissos da Vida Adulta. Mas sempre tudo tem uma explicação, neste caso científica…
Neurociência entra em cena para a compreensão do Ser Biológico!
Para entender por que seguimos (ou burlamos) regras ou somos intolerantes a elas, o ESG precisa dialogar com a biologia do comportamento. O neurobusiness combina estudos de comportamento, cognição e conhecimento aprofundado do funcionamento da nossa biologia, para se compreender com exatidão como acontece a Tomada de Decisão e as Escolhas…
E, assim, desvendar a mente de colaboradores e consumidores.
O domínio desses conhecimentos é fundamental para entender gatilhos emocionais, sistemas de recompensa e mecanismos de aversão ao risco é tão crucial quanto cumprir metas ambientais e de vendas.
Quando cursei MBA em neurobusiness, descobri como sabemos MUITO POUCO, sobre o Ser Biológico que somos! Tive muito professores/pesquisadores de muita relevância que traziam o cenário de que tudo sempre passa por Pessoas. Na verdade, os problemas e as soluções acontecem primeiro DENTRO DAS PESSOAS, depois são externados.
E quando penso que o sucesso do ESG precisa estar alinhado a essa lógica pareceu-me óbvio.
Mas deparei-me (óbvio) com o cenário onde isso… NÃO É ÓBVIO.
Dentre os professores que tive vou destacar dois: o professor Pedro Camargo, de São Paulo/SP, pioneiro do Neuromarketing no Brasil, defende que as decisões humanas nascem da interação entre instintos primários e contextos sociais. Autor do Livro ‘Neuromarketing: Decodificando a mente do Consumidor’, ele mostra como hormônios como dopamina e cortisol influenciam a motivação para cumprir ou burlar normas.
Prof.º Pedro fala da importância da “biologia do comportamento do consumidor”, que relaciona etologia, psicologia evolucionista e antropologia para explicar por que indivíduos valorizam atalhos (o “jeitinho”) em vez da conformidade. E pensando nas reflexões do profº. Pedro, entendo que aplicar esses conceitos no ESG significa construir narrativas que alinhem valores corporativos aos sistemas de recompensa do cérebro, garantindo engajamento real e sustentável. Assim, dentro dessa lógica, aplicar esses conhecimentos, não só faz todo sentido, como, por si só, já indica muitas soluções na implementação ou ampliação do ESG.
Outro profº com igual profundidade na minha escalada como mentora é Fernando Pianaro, de Curitiba/PR, Pós-Doutor em Business Administration, e professor-Orientador na Florida Christian University/USA, que honra-me por ser meu amigo. Nas suas aulas, Pianaro, falava que nosso cérebro responde melhor a estímulos emocionais e significativos. Ou seja, líderes que comunicam com empatia e propósito ativam áreas cerebrais ligadas à confiança e cooperação.
E por que isso?? Simples, a motivação está diretamente ligada à dopamina, neurotransmissor que regula o prazer e a expectativa. Quando colaboradores/clientes/parceiros de negócio sentem que fazem parte de algo maior, seu engajamento aumenta. Bom, isso é o que – de um modo geral – acontece…
Por essa razão trouxe esse ‘LAMPEJO’ de neurociência para explicar atitudes…
Exemplos práticos de Personas “boas” fazendo “coisas ruins”:
– Um motorista prudente que acelera acima do limite para não se atrasar no trabalho, arriscando pedestres.
– Um cidadão que faz doações a ONG respeitável, mas omite receitas para escapar do imposto de renda.
– Funcionários que criticam corrupção, porém repassam dados sensíveis sem autorização para agilizar projetos.
Cada um desses Casos (que foram reais) mostra como intenções positivas perdem validade quando atropelam normas de convivência, esbarrando no ‘esquecimento’ da ética. Parecem sem perigo, mas… de grão em grão, o mal toma forma onde, quase sempre, não tem como voltar atrás.
Trago alguns Caminhos (já conhecidos, mas – as vezes – esquecidos) para aplicar ESG… seguindo a lógica do Ser Biológico…que somos!
- Humanizar regras: comunicar leis internas com base em impactos no time e na comunidade 360°. (Essas informações precisam estar sempre muito a vista de todos)
- Educação continuada Por e Com PROPÓSITO : workshops de Neurociência e Inovação para líderes entenderem como motivar, como conduzir conformidade e assegurar bem-estar. (Traga claramente os porquês os funcionários estão aprendendo aquilo e qual a expectativa da empresa)
- Mentoria intergeracional: criar duplas de jovens e veteranos para trocar competências e quebrar estereótipos. (Não tente criar as duplas, incentive que eles se escolham. Essa é uma maneira de tornar essas experiências mais leves)
- Medição de confiança: faça pesquisas internas regulares para mapear a percepção de justiça e transparência. (Importante que a identidade dos funcionários não seja possível ser acessada, e torne esse detalhe muito bem comunicado. Assim, os resultados das Pesquisas serão REAIS)
A prática diária dessas iniciativas transforma o ESG de texto de política no Papel para Ser uma Cultura Viva, renovável e integrada as pessoas e sistemas.
Busque entender…
1º – O desafio de extirparmos o ‘Jeitinho’ é cultural e exige diálogo constante e ‘Modo Alerta’ diário.
2º – É na troca de experiências, na coerência entre discurso e ação, e na compreensão de que cada cérebro tem sua história, que o ESG se torna força motriz de transformação e não um incômodo regulatório.
Infelizmente não existe Perfeição… Mas, imagina tudo ‘perfeitinho’ e arrumadinho’… Que Chato Seria! Sem a emoção de um ‘probleminha’ pra se resolver…
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OBS.: Sobre a Equação: ESG + Neurociência, ainda vou trazer para você muitas reflexões, em muitos artigos… 😉
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KÁTYA DESESSARDS | Conselheira e Mentora em ESG e Comunicação Estratégica. Integrante do Institute On Life – Co-Autora no livro: Gestão! Como Evoluir em uma Nova Realidade?.
Experiência de 27 anos em diversos setores do mercado. | Quer Saber Mais? CLICK AQUI