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Governo defende que empresários do Brasil e do Chile aumentem sinergias econômicas aproveitando convergências entre os dois países

Governo brasileiro defende que empresários do Brasil e do Chile aumentem sinergias econômicas aproveitando convergências entre os dois países

Durante o Fórum Empresarial Chile-Brasil, organizado pela ApexBrasil, na capital Santiago, autoridades ouviram investidores destacar o interesse em negócios mútuos e o papel central do corredor bioceânico para favorecer as economias e a participação nas cadeias produtivas

Nesta segunda-feira (5), ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, autoridades de organismos estatais e empresários brasileiros e chilenos juntaram-se em quatro painéis temáticos durante o Fórum Econômico Chile-Brasil, evento organizado pela Agência Brasileira de promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil), na ocasião da visita presidencial em Santiago, capital do país andino. Nos painéis, que duraram a tarde toda, os participantes concordaram em promover maior parceria em setores estratégicos para os dois países: agronegócio e sustentabilidade, nova indústria, energia e tecnologia – com foco em hidrogênio verde, minerais críticos e veículos elétricos. Tratados bilaterais assinados foram sinais concretos deste novo passo no aumento da integração sul-americana como fator para melhorar a vida das pessoas, especialmente gerando mais empregos e renda. A expressão que mais se ouviu foi negócios com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente – a chamada bioeconomia.

Um dos temas abordados foi a construção do chamado Corredor Bioceânico que ligará o Centro-Oeste brasileiro aos portos do Norte do Chile. Brasil e Chile são sócios, juntamente com Paraguai e Argentina, nessa grande obra, e discutem agora como garantir que os serviços fronteiriços e logísticos sejam ágeis e modernos, assegurando a eficiência desse empreendimento. A rota criará importantes oportunidades para as economias exportadoras de todos os países envolvidos. Os portos chilenos desempenharão parte central na logística de exportação para a Ásia, via Pacífico.

“Estamos nos aproximando dos 200 mercados abertos e, para nós da ApexBrasil, é um privilégio nos juntarmos ao Chile em novas frentes, ampliando nossa missão”, afirmou o presidente da Agência, Jorge Viana, elogiado pelos colegas pela organização do evento e qualidade dos debates.

“A competência de Jorge Viana e da Apex tem sido essenciais para liderar esses eventos internacionais mundo afora com tanta competência”, afirmou o ministro da Agricultura e Pecuária (MAPA), Carlos Fávaro. Para ele, o Brasil, com a volta do presidente Lula ao comando do país, “trabalha obstinadamente pelos bons relacionamentos diplomáticos e de amizade, gerando frutos significativos e oportunidades, batendo todos os recordes para a abertura de mercados para a agricultura brasileira”. Segundo o MAPA, 72 novos mercados foram abertos para produtos agrícolas brasileiros no comércio mundial no primeiro semestre do ano. Desde o começo de 2023, o Brasil alcançou um total de 150 mercados em 52 países.

“A boa relação, como diz o presidente, é recíproca – e estamos aqui para ampliar negócios que sejam bons para os dois lados. Temos uma relação comercial complementar, graças a uma boa relação comercial e diplomática”, frisou Fávaro.

O salmão chileno, produto do país que mais chega ao Brasil, e a ração brasileira usada pelo pescado chileno, são exemplos dessa troca comercialmente complementar. O Brasil abriu o mercado de melão e pele de sapo, enquanto o Chile ampliou o mercado do abacate para os produtores brasileiros. Também foi fechada a certificação eletrônica para bebidas, que combate fraudes nas fronteiras. Além disso, há uma reciprocidade dos protocolos de orgânicos, que beneficia 2.500 produtos dos dois países, ampliando as oportunidades de negócios.

O vice-ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), ministro Marcos Elias Rosa, que representou o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, lembrou que a nova Indústria Brasil passa necessariamente por uma maior capacidade exportadora e de atração de investimentos, além de uma nova pauta com os tempos atuais. “Todos os países que romperam a condição de economia periférica – China, Coréia do Sul, Taiwan, Japão, Hong Kong -, conseguiram avançar nas etapas tecnológicas. Brasil e o Chile precisam fazer isso, atrair investimentos estrangeiros, sem aprofundar nossa dependência externa, desequilibrar nossa economia, explorando nossa complementariedade econômica”, defendeu. “A neoindústria só será inovadora se focarmos tanto nos processos produtivos quanto nos produtos, para garantir estabilidade política e econômica”, disse Rosa, defendendo a regionalização da indústria.

Por sua vez, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu a integração com o setor elétrico chileno e a continuidade da política dos biocombustíveis. “Os biocombustíveis no Brasil são o que o petróleo é para a Arábia Saudita”, comparou. Brasil e o Chile, disse ele, “serão grandes players globais na transição energética”. Silveira afirmou ainda que os dois países serão uma referência na economia verde e lembrou que os governos brasileiro e chileno assinaram uma parceria para criar um grupo de trabalho para o desenvolvimento de biocombustíveis, em especial o SAF (Combustível Sustentável de Aviação, sigla em inglês). Lembrou também que fecharam acordo voltado para atividades sustentáveis no setor de mineração para a transição energética. “Agora, mais uma vez a gente se une, também na transição energética e sob o dogma da sustentabilidade. Tenho certeza que teremos uma parceria estratégica na América do Sul para sermos um grande player para o mundo”, disse o ministro.

Sustentabilidade e soberania alimentar

Debatedora do painel sobre Agro e Sustentabilidade, Selma Nunes, vice-presidente da Câmara Chileno-Brasileira de Comércio, disse que ambos os países precisam implementar temas como sustentabilidade e soberania alimentar na hora de potencializar sua política internacional. A presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvia Massruhá, lembrou a “simbiose” de 50 anos entre a história da agricultura brasileira e da Embrapa. Segundo ela, a partir da criação da organização, a produção e a produtividade de alimentos do país cresceram 580% só em grãos, e a expansão da área não passou de 140%. “Isso graças à ciência e à tecnologia, adaptada ao nosso clima e solo, práticas mais sustentáveis, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, e quando ainda não se falava em bioeconomia”, lembra ela. “Mais importante: o preço da cesta básica no Brasil caiu 62% do preço que equivalente em 1975- redução de 40%”, o que, confirma Silvia, “mostra o papel da Embrapa na garantia da segurança alimentar em nosso país”.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, disse, por sua vez, que o Brasil exporta para mais de 160 países e que deve figurar ano que vem como maior produtor de carne do mundo. Desde 2009, disse ele, “aumentamos controles ambientais e as técnicas de rastreabilidade animal, além de programas de agricultura de baixo carbono”. Com isso, acrescenta Camardelli, “cresceu em mais de 156% a produção, com decréscimo de área cultivada em 15%”.

Transição energética

À frente do painel sobre nova indústria e tecnologia, a subsecretária de Relações Econômicas Internacionais do Chile, Claudia Sanhueza, disse que o Chile tem condições de se posicionar como um aliado do Brasil para a transição energética. José Orlandini, presidente Corporativo da SONDA – multinacional com sede em Santiago -, e um dos principais integradores e provedores de serviços de TI na América Latina, disse que Brasil e Chile vão crescer em serviços de tecnologia 12% anuais pelos próximos seis anos, investindo mais de 50% na incorporação de inteligência artificial, muito mais que países desenvolvidos.

Ainda no mesmo painel, o diretor de Assuntos Regulatórios e Governamentais na Toyota Rafael Ceconello, lembrou que “o inimigo comum é o carbono” e que “temos que usar toda a tecnologia” para garantir a saúde das futuras gerações – como carros a hidrogênio, elétricos e biocombustíveis. “A América Latina tem papel fundamental para o processo de descarbonização no mundo”, concluiu.

Mineração e minerais críticos

Aurora Williams, ministra de Mineração do Chile, um dos setores mais relevantes da indústria local, ao falar no painel Energia e Minerais Estratégicos, deu especial importância aos chamados minerais críticos, aqueles que, por sua alta relevância para a indústria de ponta, enfrentam também um alto risco de restrição. É o caso de minerais estratégicos para o Chile, como alumínio, cobre, nióbio e níquel. A área mineral representa 12% do PIB chileno e 55% de suas exportações. ” A luta é por uma indústria mineira responsável e socialmente justa”, reforçou Aurora.

O ex-ministro Raul Jungmann, atual presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), que representa as principais empresas e instituições ligadas ao setor mineral do país – reunindo 85% da produção mineral brasileira -, reiterou que “minerais críticos tem a ver com tecnologia, mas também com segurança alimentar e soberania nacional”. Segundo Jungman, hoje, o Brasil importa dez vezes mais que o Chile valores minerais críticos, de que depende hoje o mundo inteiro.

Conglomerado de empresas de energia elétrica que opera nos países da América do Sul e da América Central, a Eletra-Tecnologia pretende transformar o país num hub global de produção de veículos elétricos até 2030. “O Chile é um grande exemplo mundial de mobilidade elétrica. Hoje 30% da frota de Santiago é totalmente elétrica”, diz Milena Braga, CEO da empresa. Ela defende a rastreabilidade do lítio, como foi feito no passado com os diamantes.

Nem só sol, nem só praia

O último painel do encontro, sobre Integração Regional, focou na indústria do turismo. A subsecretária de Turismo do Chile, Veronica Pardo, lembrou o corredor bioturístico e bioceânico como solução comum para nossas fronteiras.

O presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, reiterou que o turismo é um dos grandes instrumentos para a integração regional e um dos desafios para o século 21. “E turismo não é só lazer, mas o espaço para um novo modelo de desenvolvimento, através da integração regional. O Brasil não é sol e praia, é cultura, natureza, gastronomia, e muito mais. Essa diversidade existe dos dois lados, assim como o Chile não é só neve”.

Um milhão de chilenos e brasileiros se visitaram, somados os dois fluxos, no ano passado. Cerca de 458 mil chilenos visitaram o Brasil em 2023, e 332 mil só neste primeiro semestre. Em 2023, 480 mil brasileiros visitaram o Chile.

Sobre o Fórum Empresarial Chile – Brasil

Com o intuito de aumentar a participação do Brasil no comércio mundial, o governo federal e a ApexBrasil têm realizado, desde o ano passado, encontros estratégicos com diferentes países para discutir e aprofundar parcerias, atrair investimentos e promover as exportações do Brasil. Em 2023, a ApexBrasil, em parceria com o MDIC e o Ministério das Relações Exteriores (MRE), organizou fóruns empresariais e econômicos em países como Angola, Alemanha, Arábia Saudita e Qatar, além de encontros com Setores de Promoção Comercial (SECOMs) na América do Sul, Central e Caribe e nos Estados Unidos e Canadá. Neste ano, o primeiro encontro empresarial promovido pela ApexBrasil foi na Colômbia, em abril, e reuniu cerca de 500 empresários colombianos e brasileiros, sendo o maior encontro empresarial da história dos dois países. Em julho, o Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, realizado em Santa Cruz de la Sierra, foi outro sucesso, reunindo 350 empresários e representantes de instituições públicas de ambos os países, promovendo o debate de temas caros ao comércio bilateral, como segurança e transição energéticas, transporte e sustentabilidade na agricultura e na pecuária. Desta vez, o Fórum Empresarial Chile-Brasil reuniu cerca de 500 empresários chilenos e brasileiros, além de autoridades de ambos os lados com o objetivo de identificar oportunidades de negócios, parcerias e investimentos entre os países vizinhos.