Organizado anualmente pela National Aeronautics and Space Administration (Nasa) – do inglês: Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos -, o Nasa Space Apps Challenge é um evento que reúne equipes de todo o mundo para resolver desafios relacionados ao espaço e à exploração espacial. Em 2023, a agência, Casa Branca e demais organizações federais estadunidenses declararam o ano do Open Science, enfatizando a importância da abertura, colaboração e acessibilidade na pesquisa científica, também conferindo tema à competição.
Dada sua escala global de participação, a competição é realizada de forma simultânea ao redor do mundo, dividida em etapas regionais, estaduais, nacionais e internacional, progressivamente. Durante os dias 7 e 8 de outubro, o evento deu início à sua primeira etapa de classificação; na região, as atividades aconteceram na Universidade de Caxias do Sul (UCS), em seu Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação (TecnoUCS). Na oportunidade, a equipe campeã foi composta por seis pessoas, das quais quatro são engenheiros de computação formados pela FURG. Com a vitória, o grupo conquista o bicampeonato, repetindo o feito alcançado em 2020.
Sobre a competição
Nesta edição, as atividades tiveram como foco a temática do Open Science, provocando as equipes participantes a pensar soluções para a divulgação científica e o acesso aos recursos provenientes da pesquisa científica. Pensando nisso, aos competidores foi proposto a criação de plataformas, produtos ou demais aparatos para a inserção de um marketplace, solucionando uma problemática real: conectar colaboradores à projetos abertos.
Além disso, os participantes também tiveram a oportunidade de explorar questões relacionadas à geologia espacial, arte gerada por radar de abertura sintética, predição de tempestades geomagnéticas e muito mais.
O movimento pela Open Science, segundo a organização, visa promover a transparência e o compartilhamento de resultados de pesquisa com o público e a comunidade acadêmica. A Nasa abraçou o tema, marcando uma mudança na forma como conduz suas pesquisas e compartilha suas descobertas.
Segundo Prícilla Suzano, QA Lead da equipe campeã e egressa do curso de Engenharia da Computação da FURG, poder olhar para trás e ver as horas de trabalho, pesquisa e estudos sendo recompensadas com uma premiação em uma das maiores competições da área é muito recompensador e gratificante. “A minha história com o Nasa Space Apps Challenge começou em 2019, quando participei pela primeira vez; minha segunda participação foi em 2020, quando ganhamos o desafio com uma solução baseada em Inteligência Artificial para gerenciar o sono de astronautas. Foi uma experiência incrível, mas a terceira vez conseguiu ser ainda mais especial”, recorda e completa a participante: “Neste ano foram mais de 48 horas de trabalho para chegar no resultado final, que nos garantiu o primeiro lugar. Agradeço imensamente ao meu time e agradeço à FURG, pois ela representa uma grande parte dessa conquista; me possibilitou acesso a inúmeros conhecimentos e, também, promoveu o encontro com os outros três integrantes da equipe que também fizeram suas graduações na universidade”.
A competição na prática
Durante o desafio, a Nasa disponibiliza uma série de dados e recursos relacionados ao espaço, como imagens de satélite e informações científicas, e provoca os participantes a criar soluções inovadoras usando estes recursos. As equipes devem desenvolver aplicativos, sistemas, modelos ou outros produtos que abordem temas específicos, conforme requisitado pelo desafio em questão como monitoramento do clima, exploração de Marte, rastreamento de detritos espaciais e muito mais.
“Este desafio não apenas promove a colaboração global, mas também incentiva o desenvolvimento de tecnologias e ideias que podem ser usadas no campo da exploração espacial e benefícios para a Terra. É uma oportunidade emocionante para pessoas de diferentes origens aplicarem sua criatividade e conhecimento para enfrentar os desafios do espaço”, explicou a professora do Centro de Ciências Computacionais (C3), Diana Adamatti, que é uma das incentivadoras da equipe.
Contexto do tema
Apesar de ser um tópico promissor, no Open Science, conectar colaboradores e criadores ainda é um desafio proeminente em nível mundial; segundo a Nasa, atualmente não há uma maneira eficiente de combinar criadores de projetos com colaboradores interessados que possuam as habilidades necessárias para contribuir. Pensando nisso, foi proposto o desafio atual, na intenção de promover um espaço para facilitar a interação entre estes atores.
Segundo Prícilla, as plataformas disponíveis atualmente são voltadas, em sua maioria, ao público acadêmico, o que, em sua visão, cria uma barreira de acesso ao público não acadêmico, uma vez que a linguagem científica pode não ser acessível para todos. “Além disso, criadores de projetos encontram extrema dificuldade para achar colaboradores; e pessoas que estão disponíveis para colaborar encontram muita dificuldade para achar projetos que correspondam aos seus interesses e habilidades”, esclareceu a campeã.
A equipe e o caminho para a vitória
Denominada Hypnos, a equipe campeã apresentou uma solução utilizando Inteligência Artificial (IA) como pilar central para tornar a plataforma mais conectada e acessível. Nomeado como “SpaceMates”, o grupo projetou uma plataforma inteligente de matchmaking (pareamento inteligente) entre criadores de projetos e entusiastas por Open Science.
A solução conta com um assistente inteligente, o Astra, que é formado por uma pipeline de quatro modelos diferentes de IA que se comunicam e se complementam para tornar os projetos de Open Science acessíveis por meio da conversação em linguagem natural. A Hypnos é composta pelos egressos da FURG: Carlos Nascimento (Lead ML Engineer); Prícilla Suzano (QA Lead); Wanderson Paes (Software Engineer); e Willian Lemos (Data Engineer). Completam o grupo os UX Designers: Bruno Davila e Katsutoshi Fukuoka.
De acordo com a equipe, o SpaceMates demonstra como a inovação e a tecnologia podem capacitar a conexão das pessoas e a busca pelo conhecimento, promovendo a inclusão e a equidade na pesquisa científica. “Nossa plataforma não se trata apenas de matchmaking, mas sim de uma reimaginação de como colaboramos na comunidade de Open Science”, declarou o grupo.
Ainda segundo Prícilla, o SpaceMates pode ajudar os usuários a escreverem com mais clareza suas propostas, além de traçar um perfil em tempo real de usuários com base em interações com a plataforma. “O assistente virtual integrado é capaz de filtrar projetos de forma inteligente, e também, consegue filtrar quais são os interesses e habilidades dos colaboradores, facilitando acesso a ciência aberta e promovendo uma comunidade ativa de entusiastas”, concluiu.