Em meio aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, representantes do Sistema Nacional de Fomento (SNF) e do setor produtivo defenderam de forma unânime, nesta quarta-feira (8), durante o Fórum ABDE – Desenvolvimento Regional e Cooperativismo, em Porto Alegre, que o crédito e sua articulação coordenada são fundamentais para o Brasil avançar na agenda da adaptação climática. O consenso marcou as mesas de debate que reuniram representantes de bancos públicos, cooperativas e governo.
As discussões reforçaram que o crédito verde, a inovação financeira e o cooperativismo são instrumentos decisivos para impulsionar a reconstrução do Rio Grande do Sul e preparar o país para os impactos econômicos e sociais da crise climática.
“O cooperativismo e o desenvolvimento regional são expressões que se retroalimentam. Onde a indústria financeira tradicional se ausenta, o cooperativismo permanece”, afirmou Cledir Magri, diretor da ABDE e presidente da Cresol, que representou a presidência da associação no evento. Ele destacou que mais de 80% das agências da Cresol estão em municípios com menos de 50 mil habitantes, reforçando a presença das cooperativas em regiões remotas.
Segundo Magri, a carteira de crédito da Cresol, hoje em torno de R$ 35 bilhões, tem R$ 12 bilhões em operações classificadas como verdes, voltadas a práticas sustentáveis. Parcerias com o BNDES, a Finep e bancos estaduais ampliam o alcance do financiamento em áreas menos atendidas.
O BNDES foi apontado como ator central na expansão do crédito sustentável. “As cooperativas e os bancos de fomento são decisivos para levar o crédito a todas as regiões do país”, afirmou Marcelo Porteiro, superintendente da Área de Desenvolvimento de Instituições Financeiras e Inclusão (ADIG) do banco. Segundo ele, o BNDES injetou R$ 130 bilhões na economia no primeiro semestre de 2025, sendo R$ 90 bilhões destinados a micro, pequenas e médias empresas. “As cooperativas respondem por até um terço desse volume. É o Sistema Nacional de Fomento mostrando sua força”, completou.
Na mesa sobre agricultura sustentável, o debate girou em torno de como o crédito rural pode fortalecer a transição para um modelo produtivo mais resiliente. Giseli Wenning, produtora rural e sócia da Agropecuária Sobradinho, relatou a experiência de enfrentar secas e falta de infraestrutura na Fronteira Oeste. “O acesso ao financiamento adequado muda completamente a capacidade de produzir e resistir aos impactos do clima”, afirmou.
O diretor executivo do Sicredi, Alexandre Englert, informou que a instituição possui R$ 280 bilhões em carteira de crédito, sendo R$ 60 bilhões classificados como verdes, com forte atuação no agronegócio. “O crédito é essencial para garantir a perenidade das propriedades e a sucessão no campo”, disse.
Diretor do BRDE, Leonardo Busatto, destacou que o banco atua em quase todos os municípios da Região Sul, com uma carteira de R$ 6 bilhões em financiamentos apenas em 2024. “Nossa missão é apoiar quem produz e transformar vidas. Todo resultado é reinvestido em novas operações de crédito”, detalhou.
O Sicoob, representado por Janderson Facchin, diretor Administrativo e Financeiro, defendeu mudanças estruturais nas garantias e nos modelos de risco para ampliar o alcance do crédito rural. “Crédito sozinho não basta. Precisamos de soluções sob medida para o pequeno produtor”, argumentou.
No painel sobre cidades resilientes, o BNDES apresentou sua nova estrutura voltada ao enfrentamento de desastres climáticos. O superintendente Gabriel Rangel Visconti, responsável pela Área de Enfrentamento de Eventos Extremos e Gestão do Fundo Rio Doce, explicou que o banco criou protocolos de resposta rápida para atuar em situações emergenciais. “Não dá para montar programas após a tragédia. É preciso ter produtos prontos e equipes em prontidão”, afirmou.
A prefeita de Estrela (RS), Carine Schwingel, relatou o impacto das enchentes que destruíram 1,3 mil residências em 2024. Ela defendeu o uso de soluções baseadas na natureza e drenagem urbana como parte da reconstrução. “Investir em resiliência é investir em vidas. Precisamos superar a visão imediatista e entender que o planejamento urbano é fundamental”, afirmou.
Os debates ocorreram paralelamente ao lançamento do estudo “Financiamento de Adaptação Climática para Cidades Sustentáveis”, elaborado pela ABDE, Frankfurt School e Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). O documento propõe instrumentos de crédito e investimento para infraestrutura verde, saneamento, drenagem e moradia adaptada — temas que também estarão no centro das discussões da COP30, em Belém (PA), no próximo ano.
O Fórum ABDE – Desenvolvimento Regional e Cooperativismo: Desafios e Oportunidades para a Promoção da Transição Sustentável Justa faz parte de uma trilha de eventos promovida pela ABDE sobre as principais temáticas e pautas estratégicas para a promoção do financiamento sustentável no Brasil, em preparação para a COP30. A agenda já passou por Teresina (PI), Recife (PE) e São Paulo (SP), encerrando o ciclo em Belém (PA), durante a conferência da ONU sobre clima. Esta edição foi realizada em parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), com patrocínio do Sicredi e da Cresol e apoio do Badesul e do Sistema OCB.