A inteligência artificial já está presente no cotidiano de empresas de todos os portes, mas enfrenta obstáculos que limitam seu impacto estrutural. Durante a Semana Caldeira, em Porto Alegre, dois painéis reuniram especialistas da Dell, Intel, SAP e NVIDIA para discutir a aplicação prática da tecnologia, com base em dados inéditos de pesquisa e experiências corporativas.
No painel IA em Números Adoção e Aplicabilidade, foram apresentados dois estudos. O primeiro, conduzido pela Intel em parceria com o IDC, ouviu mais de 460 empresas no Brasil, México, Estados Unidos e Canadá. O segundo foi feito pela Dell junto à comunidade do Instituto Caldeira, com foco em startups e PMEs.
A análise apontou que os principais impactos da IA ocorrem em áreas como eficiência operacional, inovação e produtividade. “Quase 98% das empresas disseram que já conseguem perceber uma melhoria de até 49% quando aplicam IA no dia a dia”, afirmou Roberta Knijnik, diretora de marketing e vendas da Intel para a América Latina.
A pesquisa também apontou otimismo acima da média por parte das empresas brasileiras. Entre os quatro países analisados, o Brasil foi o que mais demonstrou confiança na própria prontidão para aplicar a tecnologia. Apesar disso, a estrutura de base ainda é frágil. Um terço das companhias não possui governança adequada de dados e 21% sequer iniciaram seu inventário de informações.
Já a pesquisa feita pela Dell em parceria com o Instituto Caldeira mostra que a adoção é igualmente significativa entre empresas menores. A maioria das startups consultadas afirmou utilizar IA de forma esporádica, integrada ou como solução desenvolvida internamente. “As startups são as que mais adotam IA hoje em dia. 87% disseram que usam esporadicamente, de modo integrado ou até desenvolvem ferramentas para outras empresas”, relatou Marcelo Pereira, líder de PMEs na Dell Brasil.
O desafio, segundo os organizadores do estudo, está no avanço dessas iniciativas. Em muitos casos, falta conhecimento técnico, planejamento e segurança para escalar projetos. Sem isso, a IA permanece restrita a usos táticos, com baixo impacto estratégico.
A transformação passa pelos dados
A ausência de infraestrutura e a baixa maturidade em dados são apontadas como os principais entraves para uma adoção mais robusta. De acordo com os especialistas, mesmo empresas com grande capacidade técnica ainda enfrentam desafios internos.
Durante o painel, foi citado o exemplo de uma ferramenta desenvolvida pela Dell para uso interno em vendas, baseada em IA generativa. O projeto exigiu dois anos de trabalho apenas para consolidação e limpeza de dados, que estavam distribuídos em mais de 38 mil fontes diferentes dentro da organização.
Esse tipo de preparação, embora custoso, é visto como essencial. A governança de dados deve caminhar em paralelo à experimentação, com definições claras de prioridade e segurança. A expectativa é que esse seja um dos focos de investimento das empresas nos próximos 12 meses.
O amanhã da IA é presente
No painel O amanhã da tecnologia inteligência artificial inovação e impacto, representantes da NVIDIA, SAP e Singular reforçaram que o momento de adoção da IA já não é mais especulativo. Com aplicações maduras em empresas de diferentes setores e regiões, a discussão agora é sobre como transformar projetos pontuais em diferenciais competitivos duradouros.
A NVIDIA apresentou sua trajetória desde 2012 no desenvolvimento de infraestrutura para IA. A empresa foi responsável pelo fornecimento das GPUs usadas no treinamento do ChatGPT e registrou um salto de receita de 1 bilhão de dólares em 2020 para mais de 120 bilhões em 2025 apenas em produtos de data center.
“Não existe uma onda. Se é uma onda, nós é que estamos criando ela”, afirmou Márcio Aguiar, diretor executivo da NVIDIA para a América Latina. Para ele, a inteligência artificial deve ser encarada como um colaborador virtual, capaz de ampliar as capacidades humanas. “A IA hoje é 50% humano e 50% máquina. A máquina não faz sozinha. Se ela fizer, é melhor começar a se preocupar”, completou.
Segundo os participantes, o ganho não está apenas na velocidade das decisões, mas na qualidade dos resultados gerados com apoio da tecnologia. Para isso, é necessário que a IA seja integrada aos fluxos estratégicos das empresas, e não apenas aplicada em funções operacionais.
Tecnologia acessível e transformadora
O painel também abordou o impacto da IA no redesenho de funções e na criação de novas oportunidades no mercado de trabalho. A automação não tem eliminado empregos, mas sim exigido novos perfis profissionais, com maior capacidade analítica e domínio de plataformas digitais.
Casos de aplicação incluem o uso de drones com visão computacional na agricultura e soluções desenvolvidas por startups para áreas como saúde e mobilidade. Iniciativas como o programa NVIDIA Inception têm acelerado o desenvolvimento de projetos com suporte técnico e acesso a ferramentas avançadas, sem aporte financeiro direto.
A IA vem ampliando o acesso à tecnologia de ponta para empresas de menor porte, permitindo que negócios locais operem com soluções semelhantes às utilizadas por grandes corporações. A adoção, no entanto, exige execução disciplinada, aprendizado contínuo e revisão das estruturas organizacionais para que o potencial da tecnologia se traduza em valor real.
Semana Caldeira
Instituto Caldeira – Travessa São José, 455, Navegantes, Porto Alegre (RS)
Quando: até 3 de outubro de 2025
Ingressos gratuitos: Link