Lúcia Rodrigues
Para traçar um panorama atualizado do setor energético brasileiro, o Conselho Superior de Infraestrutura (Coinfra) da Fiesp recebeu Thiago Prado, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). A empresa pública federal é responsável pelo planejamento energético nacional, abrangendo áreas como eletricidade, petróleo, gás natural, carvão e fontes renováveis.
O encontro, realizado na terça-feira (23/9) e coordenado pelo presidente do Coinfra, Murilo Passos, discutiu a matriz energética atual e as perspectivas para o médio prazo, a participação crescente das fontes renováveis e os principais desafios do setor.
Na apresentação, Thiago Prado destacou que a matriz energética do Brasil é predominantemente renovável, com destaque para a energia hidráulica na geração elétrica. No entanto, a participação da energia eólica, da solar e da biomassa tem avançado de forma consistente. A projeção para 2030 é que as renováveis possam representar até 50% da matriz, impulsionadas por investimentos, expansão da geração distribuída e aumento da autoprodução, sobretudo de energia solar e biomassa.
Entre os desafios atuais, estão a diversificação das fontes de energia para além das hidrelétricas, a garantia da sustentabilidade e a gestão da intermitência, comuns nas energias solar e eólica. Também pesam a necessidade de ampliar os investimentos em transmissão e distribuição, da modernização da regulação para um mercado mais aberto e digital e da garantia de fontes de energia competitivas e ambientalmente sustentáveis.
Segundo dados da EPE, cerca de 84% da energia elétrica gerada no país em 2023 veio de fontes renováveis, índice que coloca o Brasil em posição de destaque internacional. O setor elétrico prevê investimentos de R$ 128,6 bilhões em transmissão até 2034, conforme o Caderno de Transmissão do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2024. O montante será destinado à construção de aproximadamente 30 mil km de novas linhas e à expansão das subestações.
Prado alertou, contudo, para o envelhecimento da infraestrutura de transmissão, que exige a substituição planejada de ativos em fim de vida útil. Essa renovação é fundamental para manter a confiabilidade do sistema e evitar desequilíbrios entre o aumento das tarifas e a operação de equipamentos depreciados.
No campo do gás natural, a EPE aponta a necessidade de expansão da infraestrutura na próxima década, possibilitando a substituição de fontes de energia mais poluentes, e a abertura de espaço para alternativas de longo prazo como o biometano e o hidrogênio de baixo carbono.
O presidente da EPE ressaltou ainda que o Brasil vem conduzindo estudos para fortalecer a resiliência do setor elétrico frente às mudanças climáticas. As iniciativas incluem diagnósticos de vulnerabilidades, adaptação da infraestrutura existente e incorporação dos impactos climáticos no planejamento energético de longo prazo.
Segundo ele, a emergência climática torna urgente acelerar a transição global para fontes sustentáveis e de baixa emissão de carbono. O aumento da temperatura média, a intensificação de eventos extremos e a pressão sobre os ecossistemas reforçam a necessidade de reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa. “O desafio reside em equilibrar essa necessidade urgente com as realidades econômicas e sociais de cada região”, concluiu.