Conhecimento e experiência precisam estar alinhados neste momento. Uma sintonia fina ancorada em entender como tudo que a empresa está fazendo está sendo percebido. Dependendo das escolhas iniciais num projeto de implantação ou de mudança de rota do ESG, podem gerar sentimentos muito diferentes nos stakeholders que fazem parte da cadeia de valor da empresa.
Então, como evitar ou dirimir ao máximo erros decisórios com objetivos que acabam se tornando pesadelos no dia-a-dia?
O primeiro passo é simples, mas… como tudo no ESG… sempre tem um ‘mas’… as muitas ações podem trazer paradoxos a gestão e conflitos de interesse entre o que a empresa precisa fazer e os objetivos de crescimento. Não que haja algo ilícito neste conflito. Não, não. São dicotomias entre o que sempre falo… “o feito e o perfeito”.
O que é melhor? Um feito com base e continuidade. Ou um ‘perfeito’ que nunca é alcançado por funcionário algum. O turnover alto em muitas empresas tem a ver – diretamente – com esse pensamento obsessivo dentro das empresas onde o setor de Gestão de Pessoas não consegue achar a linha condutora ou não consegue visualizar onde está o problema.
Esta situação é o que chamo de ‘Síndrome de Ônibus’, onde funcionários entram e saem como numa viagem curta de ônibus de linha dentro das cidades: Entrou, passou na roleta e alguns minutos depois já toca o alarme e desce; indo em busca de outra ‘viagem’, mais duradoura.
Isso é muito ruim para qualquer cadeia produtiva ou de serviços. Aliás, é péssimo. ESG precisa ser percebido como um gerador de possibilidades de SOLUÇÕES!
E não um amontoado de regras, normas, restrições e muitos ‘NÃOs’ ou tantos outros ‘adjetivos’ perniciosos que passe na sua cabeça. O ESG é para gerar muitos ‘SIMs’… essa é a magia!
Então… Como evitar problemas na implantação do ESG?
E mais uma vez, trago possibilidades de respostas a partir de comentários e exemplos trazidos por leitores. Aprender com erros de outros é sempre um caminho com um bom lastro de segurança. E, também, sempre faço a reflexão – junto a clientes que: olhar dificuldades semelhantes em empresas de outros setores e segmentos pode dar uma perspectiva nova ou, no mínimo, trazer algo que muitos gestores acabam perdendo por olhar apenas para o seu setor… sentimento de fazer diferente; sensibilidade para ver a Inovação que precisa.
Ou, um detalhe ainda mais nas entrelinhas desse ‘tino’… identificar onde é possivel Ser Diferente. O grande ‘Guarda-Chuva’ do ESG acaba por alavancar outra ação ainda mais no foco hoje: a INOVAÇÃO.
Por ‘natureza’ o ESG precisa da inovação, assim como a INOVAÇÃO precisa de todas as camadas de ética e regulação para andar pelos trilhos certos e não perder o foco no que importa: Ser Sustentável. É uma simbiose quase siamesa…
Esta semana recebi três ‘queixas’: A primeiro veio de Cariacica, cidade metropolitana de Vitória no Espírito Santo, que apesar de ser um dos maiores produtores de banana orgânica do Brasil e ter vocação agrícola; a queixa veio de uma indústria do setor moveleiro: a escassez de profissionais qualificados é um dos maiores desafios do setor, limitando a capacidade de produção e inovação. O estado tem buscado ir além, na criação do Selo de Circularidade para a indústria moveleira. Mas ainda assim não se mostrou suficiente.
A segunda queixa veio de Ijuí, município localizado no Noroeste gaúcho, com forte base econômica no setor de agroindústria, onde as empresas também enfrentam dificuldades para encontrar profissionais qualificados.
E por fim, veio de Salinas, Minas Gerais, a terceira queixa. Famosa pela produção de cachaça, o município foi superado este ano por Viçosa do Ceará (CE) que assumiu a liderança nacional em número de cachaçarias, com 25 unidades ativas. Lá, além de grandes questões ambientais com uma luta constante com o setor de mineração, Salinas também não consegue preencher vagas abertas.
E as perguntas dos três foram quase parecidas: Como conseguir manter ou implantar ESG?
Mas a pergunta feita não é o problema que eles precisam resolver agora. Primeira constatação.
Quando fiz a pesquisa para escrever este artigo sobre ‘Como evitar problemas na implantação de ESG?’; elaborei um tipo de Checklist para ajudar o leitor a enxergar com mais clareza e simplicidade de todas as fases e camadas do ESG… (E vou trazer essas informações mais a frente)… Mas diante de 3 queixas ‘gêmeas’; no caso trigêmeas. Percebi que a falta de profissionais é um dos maiores problemas, que não é exclusivo das regiões, mas que se enquadra em um cenário de desafios mais amplos observados no mercado de trabalho brasileiro. E arrisco a dizer, no mundo.
A pergunta feita pelos três leitores ampla com muitas perspectivas de análise…respondo (mas em parte…afinal a colunista é ‘Conselheira e Mentora em ESG’)… e o ‘serviço completo’ requer tempo, visão enloco e investimento… 😉
…mas vou dar uma VISÃO GERAL: Sempre início a abertura de uma análise fazendo uma pergunta ‘Matriz’; e neste caso: Por que será que isso está acontecendo?? O cenário é muito parecido para os 3 estados.
Será que realmente está faltando profissionais? Ou o ‘perfil’ estipulado para as vagas têm sido inalcançável? Ou, quem sabe, a faixa etária das vagas esteja limitando quem – realmente – tem experiência? E vou mais afundo. Será que ‘quem’ está na base dessas seleções possa estar com foco limitado ou ‘viciado’? Ou, talvez, o cenário das empresas esteja desalinhado com a percepção e entendimento dos recrutadores internos e externos? E vamos um pouco mais no detalhe; Como conseguir ‘fechar’ o resultado da equação:!? Há muitos profissionais qualificados que NÃO conseguem ser vistos nas seleções. Por quê!? Quase sempre a resposta (de bastidor) é a mesma: Qualificado de mais!! E quando o iniciante tem perfil, mas daí a resposta é: “não tem experiência”. Isso parece ‘papo-de-louco’. E por que, de um modo geral, se observa, com frequência, nas empresas pessoas em cargos de chefia, sem possuir perfil psicológico para isso? Isso é observado com tanta frequência em empresas com alto índice de turnover. Desculpem-me a franqueza, mas é uma realidade muito comum dos bastidores.
Faço uma última indagação desse cenário: O que você entende por ‘diversidade’ dentro da empresa?? Entenda, diversidade não é para parecer como a letra da banda de rock ‘Legião Urbana’: “Festa estranha com gente esquisita”… Não é para virar um pesadelo e sim incluir pessoas com dignidade. Inclusive, etarismo tem ficado de fora dessa ‘diversidade’!! Pense e reflita com profundidade: Será que realmente está faltando tanta mão de obra!? Isso ainda vou aprofundar noutro artigo…
👉🏻 Vamos ao Checklist que prometi. Preparei para você garantir que a sua jornada ESG não se transforme num acelerador de riscos. As empresas devem estruturar processos, alinhar expectativas e fortalecer a cultura organizacional desde o primeiro dia. Há práticas para evitar essas armadilhas. Veja algumas:
ESTRUTURE UMA GOVERNANÇA SÓLIDA: Crie um comitê multidisciplinar responsável por ESG, com representantes de todas as áreas (financeiro, operações, Gestão de Pessoas, jurídico, Auditoria, Comunicação e Marketing). Após, defina papéis e responsabilidades claras: quem coleta dados, quem valida informações, quem aprova relatórios. E, para que funcione, institua rotinas de reunião periódicas para acompanhamento de metas e desvios.
FAÇA UM DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DE MATERIALIDADE: Mapeie riscos e oportunidades associadas a cada pilar (E, S e G): clima, cadeia de fornecedores, diversidade, inovação, comunicação e compliance, por exemplo. Consulte stakeholders internos e externos (funcionários, clientes, fornecedores, comunidade) para entender prioridades reais. E priorize indicadores que tenham impacto financeiro ou reputacional significativo.
ESCOLHA O FRAMEWORK MAIS ADERENTE: Não adote o “mais famoso” apenas por status, isso é um erro estratégico que pode fazer sua empresa voltar ao ‘marco zero’. Alinhe nível de maturidade de dados, escopo de relatórios e capacidade financeira. Fique atento: utilize a matriz de esforço versus retorno. Por exemplo: GRI para ESG abrangente, SASB/TCFD para foco financeiro, ISSB para convergência internacional. E planeje uma evolução progressiva: comece por indicadores básicos e aumente complexidade ao longo dos ciclos. Não faça tudo ao mesmo tempo. A pressa vai gerar erro de análise e/ou criar cenários falsos ou distorcidos.
INVISTA EM SISTEMAS E QUALIDADE DE DADOS: Padronize processos de coleta com ferramentas digitais que garantam rastreabilidade e segurança da informação. Isto é a ‘alma’ do processo. Estabeleça controles internos para revisar e aprovar dados antes de consolidar relatórios. É aqui que tudo começa a se transformar em valor. Realize auditorias periódicas (internas ou externas) para validar metodologias e evitar inconsistências. É a etapa onde se defini os próximos passos.
ENGAJE TODA A CADEIA DE VALOR: Promova treinamento e comunicação contínua com equipe e fornecedores. Quanto mais o board criar laços com as equipes e entre as equipes, mas rápido será o entendimento das mudanças. Incentive feedback constante e canais abertos para reportar desvios ou sugestões de melhoria (esse é o 1º segredo). E sempre reconheça boas práticas internamente e celebre pequenas vitórias para fortalecer a cultura ESG. (esse é o 2º segredo).
COMUNIQUE COM TRANSPARÊNCIA: Divulgue metas, resultados e principais desafios de forma clara, sem omissões. Ao identificar falhas, apresente plano de ação e prazos para correção. Use relatórios e canais digitais (site, redes sociais, assembleias) para manter stakeholders informados (esse é o 3º segredo).
GARANTA CICLOS DE REVISÃO E APRIMORAMENTO: Estabeleça KPIs anuais e revise-os continuamente, ajustando objetivos conforme o negócio evolui. Monitore o cenário regulatório e de mercado para antecipar mudanças de norma e melhores práticas.
Aprenda com falhas: documente desvios, extraia lições e atualize processos (esse é o 4º segredo).
Adotar ESG não é apenas preencher formulários — é transformar a governança, a operação e a cultura da empresa. Com governança estruturada, metas claras, dados confiáveis e comunicação honesta, é possível maximizar benefícios e reduzir riscos, seja numa startup em fase inicial ou numa corporação global. Faça do ESG seu aliado, e não um pesadelo!
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KÁTYA DESESSARDS | Conselheira e Mentora em ESG e Comunicação Estratégica. Integrante do Institute On Life – Co-Autora no livro: Gestão! Como Evoluir em uma Nova Realidade?.
Experiência de 27 anos em diversos setores do mercado. | Quer Saber Mais? CLICK AQUI
A coluna fonteESG é publicada toda a semana. Sugestões de Pautas: katyadesessards@gmail.com.br