As inovações tecnológicas e os impactos nos sistemas de produção e no futuro da carne bovina foram destaque durante o Congresso Nacional da Carne (Conacarne), realizado no Expominas, em Belo Horizonte (MG).
O Conacarne é promovido pelo Sistema CNA/Senar e pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), com o apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), na quinta (18) e na sexta (19).
O evento reuniu produtores rurais de todas as regiões do Brasil, entidades, sindicatos rurais, especialistas, autoridades, presidente de Federações estaduais de agricultura e pecuária, diretores do Sistema CNA/Senar para acompanhar, durante dois dias, debates sobre tendências de consumo, mercado, inovações e trocar experiências.
Carne do futuro – Na quinta (18), em painel mediado pela presidente da Comissão Nacional das Mulheres do Agro da CNA, Stéphanie Ferreira, especialistas discutiram sobre como a tecnologia e as novas demandas dos consumidores têm impactado o mercado.
O professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, Sérgio Pflanzer, afirmou que antes da pandemia, algumas agências de mercado diziam que o futuro era sombrio para o setor da carne, principalmente a bovina. Em 2025, a previsão era de que 10% da carne fornecida no varejo seria de origem vegetal e que em 2040 esse número saltaria para 60%.
“Isso não aconteceu e dificilmente vai acontecer. Esse não é o futuro da carne no mundo. A carne do futuro é a mesma do passado e do presente, mas produzida com mais tecnologia e de forma ainda mais sustentável”. Para ele, o Brasil vai atender a demanda crescente do mercado com mais animais, abate mais precoce, carcaças mais pesadas, maior rendimento, melhora do desfrute, alimentação intensiva, manejo sanitário e tecnologia de ponta.
Durante o painel, o gerente de fomento dos Programas de Melhoramento Genético da ABCZ, Ricardo Abreu, falou sobre a importância do melhoramento genético chegar a todos os produtores, como forma de melhorar o desenvolvimento da cadeia produtiva. “O melhoramento genético não se faz à distância. É preciso técnicos de campo para ajudar o criador a melhorar o rebanho”.
Na opinião do gerente da ABCZ, a dedicação do Brasil ao melhoramento genético e à inovação posicionou o país como líder global na produção de material genético bovino. “Temos orgulho de nossas conquistas e esperamos continuar contribuindo para a indústria mundial de carne bovina, por meio de práticas de melhoramento genético sustentáveis e avançadas”.
Em sua palestra, o coordenador do Programa Embrapa Geneplus, Maury Dorta, pontuou que o produtor precisa de apoio e a cadeia tem que estar atenta ao que o mercado exige. “Se a gente ficar no escritório vendo um monte de número não vamos saber qual é o tipo de genética e de carne que o mercado quer e que vai fazer o criador ganhar mais renda e o Brasil exportar mais”.
Maury reforçou que a carne do futuro não é o que a gente quer vender para o mercado, e sim o que o mercado quer comprar, que inclui o uso de diversas tecnologias, como o cruzamento industrial. “Precisamos produzir mais, sermos mais eficientes e entregar qualidade da carne e isso está na nossa mão”.
Casos de sucesso – Ainda na quinta (18), o Conacarne contou com a presença de pecuaristas e representantes do setor de carnes nobres em um painel para apresentar casos de sucesso em relação ao uso de tecnologia nos sistemas de produção, agregação de valor dentro e fora da porteira e verticalização da produção. O moderador foi o presidente da Faemg, Antônio Pitangui de Salvo.
O pecuarista Rodrigo Canabrava, da Fazenda Villa Canabrava, em Bocaiúva (MG), compartilhou sua experiência com o sistema de cria, bem-estar dos funcionários e melhoramento genético do rebanho. Ele citou pilares fundamentais adotados em sua propriedade, como uma equipe bem treinada para cuidar dos animais, controle de custos e preservação do meio ambiente.
Já o produtor Fábio Almeida apresentou o projeto Nelore Golias, de Birigui (SP), que desenvolve melhorias genéticas na raça Nelore. Segundo ele, a genética do Golias garante animais dóceis e um acabamento de carcaça melhor do que a média. “A maciez e o marmoreio são pontos de destaque do nosso gado”.
Em seguida, Antônio Ricardo Sechis, fundador da marca Beef Passion, destacou a importância do bem-estar animal para garantir um melhor resultado da carne. “O comportamento do animal depende dos cuidados do criador. Entender o sistema é assegurar bom resultado”.
O painel também contou com palestra do gestor do programa Angus JP Agropecuária, José Leandro Peres. Ele também compartilhou sua história e de sua família e experiência com a pecuária de corte. “A nossa base de matrizes é Nelore, uma raça rústica, de alta fertilidade, que se adapta e agrega composição no cruzamento com a raça Angus”. Para ele, quando se trata de carne, o sabor começa no pasto. “Nosso objetivo é entregar experiência e um pouco da nossa história”, disse.
A programação do Conacarne continua na sexta (19) com debates sobre o futuro do mercado do boi e a carne pela ótica do consumidor. Ainda terá uma aula de demonstração de desossa e cortes nobres.