As transformações em curso no mundo também impulsionam um novo posicionamento da Federação Varejista do RS. Ao apresentar sua nova tagline para acompanhar esse cenário – “A Alma do Varejo, a voz do Rio Grande” – compartilhou, ao longo de dois dias, inspirações para o segmento seguir se reinventando no futuro, durante a 2ª Convenção Estadual Lojista. Encerrado nesta sexta-feira (12) em Gramado, o evento mostrou como a entidade tem encarado essa era de mudanças. Com a temática A [Re]Evolução do Varejo, o encontro apresentou mais de 10 palestras de nomes proeminentes no cenário de transformação digital, um dos temas de maior necessidade para os negócios seguirem relevantes para o amanhã. “Neste momento de grandes transformações, a Federação está junto para entender tudo o que está acontecendo e o que é preciso fazer para perpetuar os negócios e desenvolver a economia. Quem não entender que as tecnologias mudam as regras do jogo vai ter muita dificuldade. Mas hoje vamos sair daqui re-evoluídos”, disse Pioner.
Cerca de 700 profissionais do varejo gaúcho estiveram na convenção, que começou na quinta-feira com o 3º Encontro da Mulher Empreendedora, no Hotel Master Gramado, na Serra. Delegações de todo Rio Grande do Sul se mobilizaram para acompanhar o evento. E foram reconhecidas por isso, como a turma vinda de São Borja. A cidade fronteiriça, a mais de 720 quilômetros de Gramado, foi a que mais percorreu estrada para prestigiar o encontro. Ainda, as que mais levaram participantes – Erechim, Campinas do Sul e, empatadas, Santa Cruz do Sul e Caxias do Sul – também foram homenageadas.
A nova fase da Federação Varejista do RS também foi reforçada pela apresentação da CDL IA. Lançada para o Brasil na semana passada pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), a partir de uma sugestão da entidade gaúcha, a assistente de inteligência artificial generativa personalizada foi desenvolvida exclusivamente para o varejo. O objetivo é capacitar as CDLs para se aproximar dessa ferramenta revolucionária. “É a primeira ferramenta de uma entidade modulada para o varejo. Preciso agradecer também ao sistema CNDL, que comprou a ideia, porque eu vi que era muito maior do que só as minhas dúvidas e meus sonhos”, disse Pioner, estendendo os agradecimentos a Gustavo Caetano, CEO da Samba Tech, e João Galdino, CEO da Genesis Inteligência Artificial, que ajudaram no desenvolvimento da plataforma.
Fabio Neto chama para uma reconfiguração pessoal
O segundo dia da convenção abriu com o CSO na StartSe, Fábio Neto, convidando o público para promover uma reconfiguração pessoal. Ao tratar do tema Varejo sob Nova Direção, disse que vivemos, pela primeira vez na história da humanidade, uma convergência de revoluções simultâneas. “Fomos preparados para um mundo linear e medimos as mudanças com uma régua do passado. Mas o mundo de hoje desencaixou de tudo o que fazíamos no passado, e isso criou uma nova realidade de negócios”, disse o palestrante.
Para ele, o consumidor está imediatista, disposto a comprar de diferentes canais e mais preocupado com o que o público fala das marcas do que elas próprias comunicam aos consumidores. “Nos últimos meses, 50% dos brasileiros compraram de uma loja que nunca compraram antes”, disse, citando dados do Google. O palestrante salientou que a era de reconfiguração pela qual passamos é de caráter transversal, geográfico, tecnológico e pessoal. Disse que o cliente não tem setor. “80% compram no varejo físico, mas metade de quem faz essas compras vem do ambiente online”, ponderou. Também reforçou boa parte da palestra centrado na influência da China no varejo, para falar da questão geográfica. “O Ocidente é asiático. O Tik Tok passou o WhatsApp em tempo de uso no Brasil, numa relação de 30 horas semanais por 24 horas semanais. Se sua loja não está no Tik Tok, você não gosta de dinheiro”, disse. Também disse que a inteligência artificial não é tendência, mas emergência, e que as pessoas não podem negar as mudanças. “Temos que oferecer experiências, ser inquietos e questionar ao invés de ter respostas prontas”, recomendou.
Caio Camargo diz que só já expertise não basta
Ter anos de mercado e conhecimento técnico já não bastam para se dar bem no varejo de hoje. Autor do livro “Arroz, Feijão & Varejo”, o especialista em inovação no varejo Caio Camargo disse que estamos vivendo uma ‘permacrise’. “A tempestade não passa nunca. Vivemos numa aldeia global tão conectados que qualquer evento no mundo tem reflexo no nosso negócio. Só a sua expertise já não basta para avançar, porque o mundo ficou complexo de entender”, disse.
O também apresentador do @varejocast reforçou a necessidade de inovação para os negócios, de eles ofertarem experiências e de estarem conectados às mudanças em curso no mundo, acompanhando os hábitos das novas gerações. “O maior concorrente da lojinha de bairro hoje é um marketplace da China. Como vocês querem vender para as novas gerações se você não sabe o que elas consomem? Como CPF você tem direito de estar fora do que quiser, mas como CNPJ não”, aconselhou, se referindo à necessidade de ter perfis em redes sociais como o TikTok.
Camargo também falou sobre a dificuldade de contratação numa sociedade em que as possiblidades online, como tiktokers e influencers, se tornam mais atrativas para a nova força de trabalho. “Precisamos contratar pessoas para trabalhar anos conosco, e não apenas para preencher vaga. Tenham isso como propósito”, comentou. Ele também sugeriu às empresas a se desprenderem para aprenderem novamente, a serem resilientes para se adaptarem ao futuro, a inovarem e a utilizarem as tecnologias como IA. “A IA é o nosso estagiário”, comentou.
Cases e aplicabilidade da IA via Google
A inteligência artificial também apareceu na convenção pelo viés prático, através de cases e aplicabilidade da tecnologia. O painel foi conduzido pela responsável pela área de varejo do Google Cloud, Silvia Somazz, e pelo diretor de Modernização Empresarial, Plataformas e Cloud na Thoughtworks, parceira da Google, Gregorio Melo.
Melo trouxe conquistas obtidas por clientes com o uso da IA. Os exemplos passaram por automação nos processos, como redução de 50% dos cadastros na passagem por revisão manual, e melhorias no atendimento/relacionamento com o cliente, com redução de tempo de resposta nas redes sociais de 16 minutos para respostas instantâneas. “Todos estão na pressão por melhores resultados, e a IA reduz custo operacional e aumenta receita”, disse Melo. Silvia mostrou uma pesquisa da Google com os 31 maiores varejistas brasileiros realizada antes, durante e após a black Friday. Os dados mostraram que apenas 13 aproveitam o histórico de navegação no app ou site para personalizar ofertas, enquanto 20 não enviaram notificação sobre produtos esquecidos no carrinho. “Isso é perda de venda. A pesquisa mostrou o tamanho de oportunidade e de melhora no atendimento”, constatou Silvia.
Melo destacou três aspectos importantes para investir em IA – maior personalização, operações inteligentes e aumento de relacionamento. “A IA está aí para resolver problemas, mas tem que ter estratégia para saber onde se quer chegar. Uma boa ideia é aplica-la aos poucos, fazendo pequenos testes”, aconselhou Melo. Para quem está adentrando nesse universo, Silvia sugeriu se aprofundar em conhecimento. “A IA consegue fazer cenários e proporcionar testes rápidos, se abre ou fecha determinada torneira. Mas antes de tudo tem que estudar, aprender”.
Gustavo Caetano faz conexão com o futuro
Estudioso de tendências e de como aplicá-las, o CEO da Samba Tech, Gustavo Caetano, destacou em sua palestra como as empresas devem estar preparadas para as rupturas tecnológicas. “O futuro é impaciente, ele não manda convite. Se a empresa tem uma área de inovação, mas não sabe usar IA, você tem um problema de cultura e não de tecnologia”, disse.
Referência em palestras sobre inteligência artificial e inovação, ele destacou a IA, o poder computacional, a robótica e o espaço como elementos centrais que conduzirão a vida no futuro. Para sobreviver a isso, é preciso entender o cliente com mais profundidade, cortar o atrito onde existe, ampliar a experiência do cliente e pensar no que criar de novo na jornada do cliente. “Isso se faz saindo da bolha”. E com o apoio da IA. Ele sugeriu fazer um uso estratégico da ferramenta, criando um comitê de IA para mapear processos competitivos antes de investir “Mas antes é preciso pensar no problema, para depois pensar na ferramenta. Use a IA perto do seu core, para mapear melhor. É preciso testar, errar e aprender. Na era da IA, tem que saber fazer as perguntas”, disse.
Caetano também é um dos especialistas presentes nas aulas da CDL IA, um sistema de IA generativa conversacional treinada para atender o varejo e introduzir as CDLs nesse universo de oportunidades. Ele também participou do desenvolvimento da solução, lançada nacionalmente pela CNDL no último dia 5, a partir de uma sugestão da Federação Varejista do RS.
A necessidade da IA e o otimismo econômico de Ricardo Amorim
O economista Ricardo Amorim mostrou como a IA está revolucionando os negócios a partir do que ele considera a maior transformação da humanidade desde a invenção da energia elétrica. “Isso é só a ponta do iceberg. Estamos só engatinhando, mas já é uma revolução”, comentou.
Amorim disse que a ferramenta é parceira para pensar sobre tudo e, ao oferecer um banco de dados a ela, as possibilidades são enormes. “A IA só é capaz de fazer o que a gente é capaz de pedir. Quanto mais repertório tivermos, mais ela será útil. Por isso, quem mais teme ela, as pessoas de mais idade, podem ser as que mais se beneficiem, ao contrário do que aconteceu com outras tecnologias, porque elas têm mais bagagem. Quem corre risco é quem é exclusivamente operacional e não tem repertório”, opinou.
Assim como a energia elétrica proporcionou a chegada de máquinas antes não pensadas, o mesmo vai ocorrer com a IA. “Nós não temos ideia das transformações que ela vai trazer. Usem e abusem dela para melhorar produtividade, criar novos produtos, melhorar serviços, entender melhor o cliente, enfim, para fazer o que antes não era possível”, aconselhou.
E o momento para isso é agora. “Oportunidade existe quando todo mundo está com medo”, comentou. E, um outro fator impulsiona ainda mais isso. “Estejam preparados para um Brasil que vai crescer mais do que as pessoas imaginam”, disse. Ele disse que os efeitos do tarifaço ficarão restritos aos setores que estão previstos na alíquota, mas que como um todo os impactos na economia brasileira serão pequenos. “Já registramos em agosto deflação, a maior dos últimos três anos. A partir do ano que vem deveremos ter um impacto positivo disso, com a queda de juros e o aumento do crédito, o que aumenta o consumo. E quem é mais beneficiado com isso é o varejo”, avaliou.